Parto humanizado é discutido na periferia de São Paulo

Trocar experiências e informações sobre o parto humanizado foi o que motivou em outubro de 2014 a primeira Roda Acalanto Materno, que reuniu quatro casais da região na casa da doula Katia Cilene Souza, 39, no bairro do Jardim São Francisco, zona sul da cidade. Desde então uma vez por mês os encontros acontecem e como o grupo cresceu o espaço ficou pequeno e passou a acontecer no salão de uma Igreja na Guarapiranga.

Katia conta que tudo começou quando se interessou em saber mais sobre a humanização do parto, ela passou por duas cesáreas que a princípio eram necessárias, até conversar com a enfermeira obstetra Luciana Lourenço, que na época iniciava no mundo da humanização e partos domiciliares. Após acompanhar gestantes como doula, ela agora decidiu fazer faculdade de enfermagem para em breve ser uma enfermeira obstetra.

Enfermeira obstetra Luciana Lourenço e a Doula Katia Cilene durante um dos partos (Foto: Arquivo Pessoal)

“Constantemente presencio a desumanização nos atendimentos prestados em nossos hospitais, tanto público quanto particular. Descobri que mentiram pra mim e roubaram o direito de viver o protagonismo do nascimento dos meus filhos. Depois de viver a experiência de uma nova gestação e engolir literalmente todas as informações do parto humanizado e domiciliar, comecei a ajudar as amigas a viver esta experiência e fui descobrindo em mim um dom em acompanhar mulheres e levar informações que precisam para decidir o melhor para si mesma e para seu filho”, conta.

A moradora do Jd. Ângela, Jeane Carmo, 34, contou que em setembro de 2014 seu filho João Paulo nasceu em um parto domiciliar e tanto ela como o marido participam da roda desde o primeiro encontro. “Foram 47 horas de trabalho de parto com auxílio da Luciana e da Katia, além da presença do meu marido e minha filha. Foi lindo!”, lembra.

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Jeane e o marido Ademir durante o trabalho de parto do filho João Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar dos encontros acontecerem na zona sul, alguns dos participantes vem de outras regiões. Uma delas é Amanda Neco, 27, moradora de Cotia que participa desde a segunda roda, geralmente vem ela o marido e os filhos. Após duas cesáreas, Luciana e Katia acompanharam a terceira gestação dela e realizaram o parto domiciliar e humanizado que ela tanto queria.

“A Roda está crescendo cada vez mais, é um lugar de acolhimento, informação, transformação. Ainda não tivemos uma família que passou por lá e não mudou em algo seu ponto de vista, principalmente os maridos. Por isso insistimos na frase “Sem informação não há escolha”. Ali somos uma família de apoio”, explica Amanda.

Há um pouco mais de um ano de roda, Katia revela que das 30 mulheres atendidas e acompanhadas, já foram 12 partos domiciliares,11 partos normais hospitalares, dois partos normais em casa de parto, duas cesáreas Intra parto (necessárias), três cesáreas eletivas (quando a cirurgia foi agendada antes da grávida entrar em trabalho de parto).

Cíntia Gomes, 32, é correspondente do Jardim Ângela
@cintiamgomes
cintiagomes.mural@gmail.com

Comentários

  1. A precursora do parto naturalizado morreu mês passado, aos 36 anos, de complicações cardíacas num parto, e segundo os médicos ela não apresentava nenhum problema estando apta ao parto em casa sem assistência médica… Tá lá, mortinha e a filha sem mãe. Acho bom reverem seus conceitos e escolherem pela VIDA segura, suas e de seus filhos, e não pela coisa natureba imposta por uma mídia que de conhecimentos médicos em termos de SEGURANÇA de VIDA não sabem NADA DE NADA. #ficaadica

      1. Lindo trabalho Cintia, parabéns! Só com informação de qualidade as pessoas vão deixar a zona de conforto e a ignorância. O parto é um momento único e particular e cada mãe e pai tem o direito/dever de procurar saber os prós e contras de cada procedimento. Pra mim o parto natural é exatamente o que diz o nome: natural. A natureza é sábia, o corpo da mulher é preparado pra parir, assim como o bebê é preparado para nascer. Não tiro em nenhum momento o valor das intervenções médicas (trabalho inclusive na área da saúde), a cesárea quando bem recomendada, em situações de necessidade (e não porque o obstetra prefere marcar um horário porque é mais cômodo) tem todo o meu respeito. E ainda assim é um procedimento cirúrgico, com todos os riscos que um procedimento cirúrgico carrega.

  2. Cíntia,
    Parabéns pelo trabalho!
    Gostaria, se permitir-me, de deixar a minha experiência aos maridos (que são essenciais neste momento) que estão grávidos com suas esposas: “Busquem informações sobre o parto humanizado! Entendam sobre o atual sistema obstétrico nacional. Ouçam suas esposas, seus desejos e curtam a gravidez dos seus filhos. O parto é um momento único. Façam dele o mais respeitoso e HUMANO possível.
    Nosso primeiro filho nasceu por uma cesárea. Foi tranquilo. Rápido. E frio. Para mim tudo ok. Faz parte do sistema adotado hoje em dia. Cesárea é “normal”. Minha esposa e filho chegaram no quarto 4 horas após a cirurgia. Separados é claro. Após ela sair da sala de recuperação e ele do berçário. Ela bastante abatida devido a anestesia e ele todo limpinho e cheiroso. Mamar na mãe….bom certamente isto não aconteceu. Mas tiveram os docinhos e lembrancinhas para os convidados. Pronto! Serviço acabado.
    Percebi que a minha esposa ficou um pouco incomodada com tudo. Era a primeira vez que a médica estava como paciente. (ela é obstetra)
    Deste incômodo ela que já havia montado um grupo no Facebook para trocar experiências entre mães e acabou conhecendo a humanização do parto. Para nossa surpresa 1 ano após o nascimento do nosso primeiro filho ela estava grávida novamente. Resolveu então aprofundar-se mais neste “novo-velho” universo do ser “humano”….da humanização…ou das índias como ela fala. Para ela parecia algo muito familiar….quando apresentou-me….uma loucura! Negativo! Eu disse. Cesárea é muito melhor. Daí em diante ela mostrou-me e provou-me todo cenário em relação ao nosso filho. Resumindo…nossa filha nasceu em casa! Isto mesmo! A filha de uma obstetra nasceu em casa. Linda, forte, já foi direto para as tetas da mãe. Uma cena inesquecível! Eu, ao contrário do primeiro parto, ao invés de fotografar e filmar, participei. Fiz meu papel de esposo e pai. E, diferente do primeiro filho, minha filha mamou muito durante as mesmas 4 horas que se tivesse faltado esta humanização seria bem diferente.
    Estamos dizendo que não existe apenas uma forma de parir. Que nosso sistema atual falido e impositivo não pode reinar. Temos direito de escolher nossos destinos. Temos direito de exigir nossos direitos. O Brasil é o recordista de cesáreas no mundo. É mais caro? Por incrível que pareça custa muito menos para o hospital. Muito menos para o plano de saúde. E sobre a saúde….sim é bem mais saudável e humano para nossas mulheres e para nossas crianças. A grande notícia é que existem luzes como a Cíntia para iluminar o caminho das futuras famílias brasileiras.
    Abraços e uma “boa hora” para todas as grávidas e grávidos deste país.

  3. Fico cada vez mais feliz em saber que o parto que “humaniza”, dá certo! Quero ficar grávida este ano e farei tudo que estiver ao meu alcance para ter um parto desta maneira, para que não tirem de mim o dom que me foi dado e para que não tirem do meu filho, o presente do nascimento por “espontânea vontade”.

  4. O que deveria estar em discussão é a implantação de um programa permanente e sério sobre planejamento familiar e paternidade/maternidade responsável. Com isso, muitas, mas muitas famílias inviáveis poderiam ser evitadas, e o tal parto humanizado seria consequência de mais responsabilidade dos pais.

  5. bom acho que tao fantasiando muito o parto normal. esquecem que muitas mulheres sofrem muito e tem muitas vezesz q fazer perine mais tarde pois a bexiga desce. minha mae e minha irma tiveram q fazer …….mesmo q eu pudesse fazer parto normal nao o faria de geito nenhum ….mais admiro quem tem coragem mais ninguem tem o direito de impor que uma mulher tenha esse parto q pra mim e desumanizado tenho trez filhos e todos cesarias gracas a deus nao sei nem oque e dor de parto …. e me sinto muito bem minha bexiga esta onde deve,

  6. Como assim parto humanizado? Em casa?
    Mas que cascata.
    O parto, na medida do possível, tem que ser num hospital e ponto.
    Qualquer parto é sempre uma situação de grande risco para a gestante e a criança. Se algo der errado tem que haver toda a infraestrutura de uma UTI ao lado com médicos de várias especialidades, equipamentos e medicamentos.

  7. E quem diz que nos hospitais estamos optando por segurança de nossa vida?!
    Nao é só pq vc está dentro de um hospital que vc está segura na hora do parto, principalmente se está num hospital dito como humanizado do SUS, onde a estrutura é ótima, teria tudo pra dar certo, e digo pela minha experiencia a qual não foi das melhores, não morri por Deus, pq os proprios medicos dizem que sua vida nao é importante, oque importa é seu filho, sendo que nem está em sofrimento fetal! Simplesmente te aplicam a anestesia errada, te tratam como um animal no trabalho de parto, sem respeito algum, e ainda dizem que vc não é nada, não é importante?! Ah, por favor, nao me venha com essa conversinha de que no hospital estará optando por segurança de vida, pq se vc estiver morrendo eles nao farão absolutamente nd pra salvar vc, a pessoa que não é importante, como eles dizem, os doutores, os que sabem td sobre vida e salvamento dela, jamais farão algo por vc pq eles decidiram que vc nao é importante no parto do filho que vc vai ter que cuidar, criar, educar, ensinar! Falar que por alguem ter optado pelo parto humanizado domiciliar é nd mais e nada menos que falta de informação, e principalmente falta de sensibilidade com quem ja passou por coisas horriveis dentro de um hospital que tbm não voltou vivo pra contar os horrores que passou num momento de tanta beleza e sensibilidade de uma mulher!

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