Em Taipas, pai e filho estão de lados opostos sobre impeachment de Dilma

Agência Mural

André Medeiros, 27, é contra o impeachment. Seu pai, Manoel Bezerra, 49, defende a saída de Dilma.

Os dois moram no Jaraguá, na zona norte de São Paulo é um não gosta de comentar a posição do outro. “É bom que moramos em casas separadas, aí não precisamos ficar discutindo política”, diz André. “Mas quando nos vemos acaba rolando de falar”.

“Respeito a posição dele”, diz Bezerra, com resignação. Mais que eleitor, ele já foi muito próximo ao PT. Tornou-se sindicalista no começo dos anos 2000, levado por Carlos Alberto da Silva, um dos fundadores do partido, e guarda fotos ao lado de nomes como José Dirceu e Aloizio Mercadante.

Ex-motorista de ônibus, Bezerra era representante da categoria quando a então prefeita Marta Suplicy (no PT na época) realizou a reorganização do transporte paulistano. Várias viações foram fechadas, inclusive a que ele trabalhava, a Jaraguá, e houve demissões.

“Com o tempo, o PT se afraquejou e ficou mais focado em temas partidários. Vários sindicalistas que não tinham nada agora são milionários”, critica Bezerra.

Depois de sair da vida sindical, ele passou a trabalhar como vendedor de calçados feitos no nordeste para lojas de São Paulo. “As vendas caíram 60% com a crise. Alguma coisa precisa ser feita”.

Medeiros, 27, vai aos protestos desde 2013, primeiro contra a tarifa de ônibus e depois “em defesa da democracia”. No domingo (17), foi para o Anhangabaú no fim da tarde.

Seu pai prefere não ir a manifestações pelo risco de confusão, mas divide suas opiniões com amigos e no trabalho. “Os comerciantes estão contra a Dilma porque precisamos de mudança. Ela é muito incompetente”, diz Bezerra.

Afastado das redes sociais enquanto estuda para concursos, Medeiros também conversa com amigos para convencê-los de sua posição, mas evita cair em enfrentamentos. “Tento chegar num ponto de acordo”.

“O impeachment é um caminho incoerente. Não faz sentido que Eduardo Cunha lidere o julgamento. E o modo como tudo é feito parece mais um Carnaval”, diz André, que defende uma reforma política e é simpático a partidos de esquerda como o Psol e faz críticas à o PT. “Eles não tavam na vibe da esquerda, tanto que se aliaram ao PMDB”.

Rafael Balago, 27, é correspondente de Pirituba
rafaelbalago.mural@gmail.com

 

 

 

Comentários

  1. Políticos sabem e sabem antes de todos: ao vencedor as batatas. E não foi outra coisa que aconteceu também com a redemocratização do País. Os vencedores resgataram os despojos da guerra política e muitos ficaram ricos ou subiram na escala socio-economica após a vitória.
    Os mecanismos são tortos. No serviço Público são artimanhas de enquadramentos funcionais sem mérito, reclassificação de cargos e salários, em bases muito mais favoráveis, cargos em comissão, etc, etc.
    A gente vê à distância, o movimento de ascenção social de pessoas ineptas, como vemos no congresso a ascensão de pessoas antes objeto de chacotas, ou outras totalmente despreparadas para a representação política, outras totalmente identificadas com o nível da nossa população nacional. Ou seja: não adiantam leis; o que é necessário é de moral e ética, mas essas dependem do nível da sociedade em que se vive. Níveis mais elevados tem a admitir limites à sede de Poder. Níveis mais baixos, é a rapinagem, pura e simples. Já era tempo de termos superado os tempos das hordas primitivas em que um matava o outro e tomava todos os pertences do morto, inclusive mulher e dinheiro. Mas o engôdo de que vivemos em uma civilização obscurece a visão clara da barbárie em que vivemos.

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