No Campo Limpo, Roda de Conversa discute drogas e violência na periferia
A Casa de Cultura do Campo Limpo, na zona sul, recebeu na última semana a primeira Roda de Conversa sobre drogas e sua relação com a questão racial. Mães, artistas, familiares, agentes de saúde e militantes de movimentos sociais contra o extermínio da juventude negra e pobre debateram o tema “A política de drogas que não nos serve – Guerra às Drogas/Guerra aos Pretxs”.
“A gente tem que conversar aqui, onde as pessoas moram e estão em meio à guerra que acontece todo dia. Sentimos a falta da narrativa destas pessoas”, argumentou Nathália Oliveira, 28, coordenadora da Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas – INNPD.
O evento foi coordenado pela INNPD juntamente com outras organizações da zona sul, como a União Popular de Mulheres – UPM e a Agência Solano Trindade com apoio da Casa de Cultura.
Para o ativista social, Thiago Vinicius, 27, o mais importante no momento é manter as pessoas em rede para que ocorra o combate aos conflitos e mortes dos jovens. “As mães, mulheres e todas as vítimas da violência do Estado devem se unir para acabar com este genocídio diário que vivemos”, declarou.
“Do nosso lado tem um centro empresarial e lá, não vejo ninguém com medo da polícia. Mas do meu lado, a gente tem”, compara Cauê Souza, 25, morador do Jardim São Luis. “Na Vila Madalena, fazem festa e ninguém faz nada, aqui eles soltam bombas enquanto a gente faz o baile”, diz.
A INNPD tem sua sede em Salvador, onde realiza ciclos de debates e conversas sobre as drogas. A atividade faz parte do calendário anual da iniciativa em percorrer regiões de São Paulo para debater o assunto e pensar juntos em como lidar com a situação.
“A questão das drogas e da violência [na periferia] é pauta de dinheiro, ou seja, gera grana. O Estado define o que é droga e sempre tem alguém que paga por isso”, opinou o artista Rafael Poço, 30.
NÚMEROS
Anualmente, cerca de 23.100 jovens negros e com idade entre 15 e 29 anos são mortos no Brasil e as mortes são mais frequentes nas periferias das grandes cidades, concluiu uma CPI do Senado que analisou o tema. O Mapa da Violência de 2014, revelou que a taxa de homicídios entre jovens neste perfil gira em torno de 42,9 para cada 100 mil habitantes.
De acordo com Jeferson Capani, enfermeiro do hospital público do Campo Limpo, a ausência de políticas públicas para lidar com a situação é prejudicial. “Com isso, o genocídio continua chegando no pobre, e os profissionais que não estão envolvidos, colaboram para esta tragédia”, afirmou.
A sensação de violência é sentida pelos mais jovens no Campo Limpo. “Eu só acho que nós daqui não temos nada ver com esta violência toda dos ‘policia’, só quero andar de skate de boa na praça do Capão”, diz um adolescente que mora no bairro.
Ao fim da conversa, os MCs Pictcho e Buia recitaram suas composições e o sarau “Preto no Branco” deu continuidade às atividades, encerrando a tarde com poesia e música, como o rap da Felicidade.
“Eu faço uma oração para uma santa protetora / Mas sou interrompido a tiros de metralhadora / Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela / O pobre é humilhado, esculachado na favela / Já não aguento mais essa onda de violência / Só peço autoridades um pouco mais de competência”.
Lucas Veloso, 20, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com