Cobertura da América Latina se concentra nos centros de poder, dizem jornalistas em Congresso
Falta de destaque na imprensa para histórias locais e foco em noticias apenas de regiões centrais foram alguns dos apontamentos dos palestrantes do painel “Cobertura da América Latina: narrativa e investigação”, realizado no 11º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), no sábado (25).
Ana Magalhães, uma das fundadoras da revista digital “Calle 2” (calle2.com), comentou o fato de boas histórias da América Latina não terem espaço na grande mídia. Para a jornalista brasileira, a imprensa nacional cobre muito mal os vizinhos latinos e não dá atenção ao que foge das capitais. “A grande imprensa tende a cobrir os núcleos de poder”, argumenta.
A jornalista conta que a revista “Calle 2”, projeto que mantém com dois sócios há sete meses, possui uma rede de colaboradores freelancers com propriedade para falar sobre América Latina sem focar apenas nos problemas.
“Há uma atenção para notícias positivas, histórias de pessoas que estão fazendo coisas para melhorar o mundo, ideias que inspiram” diz Ana, que fala em jornalismo humanizado.
Um exemplo citado foi o da reportagem “A ‘Machu Picchu’ colombiana” sobre a Serra Nevada de Santa Marta, a cadeia costeira de montanhas mais alta do mundo, com 5.775 metros de altura a apenas 42 quilômetros do mar do Caribe, não muito popular nas publicações de turismo.
No momento, a “Calle 2” é mantida por recursos pessoais dos criadores, mas em breve será lançada uma campanha de crowdfunding para arrecadar fundos. Ana comenta que a ideia é seguir não cobrando o acesso ao conteúdo da revista, para que os leitores continuem navegando livremente.
O jornalista colombiano Carlos Eduardo Huertas, diretor da Connectas (connectas.org), plataforma digital de reportagens investigativas, também chamou atenção para as histórias ditas “fascinantes” que não recebem destaque.
“Há um desconhecimento do Brasil sobre a América Latina e também da América Latina sobre o Brasil. Matéria prima há, mas o acompanhamento da mídia é pouco”, diz. Outros pontos defendidos por ele são a valorização da voz autoral e o trabalho em rede entre jornalistas.
Sobre a Connectas, Huertas conta que a plataforma surgiu a partir dos seus contatos nas redes e eventos, como congressos e conferências, que ele frequenta. Atualmente, a entidade tem membros em 15 países e vínculos com organizações jornalísticas independentes que republicam as reportagens na plataforma.
Como a Agência Mural, a Connectas e a “Calle 2” buscam com suas redes de jornalistas chamar a atenção para histórias que ficam à margem das coberturas diárias do jornalismo.
Priscila Pacheco, 28, é correspondente do Grajaú
priscilapacheco.mural@gmail.com
Boa iniciativa para sair da mesmice , diante de um leque de possibilidades o jornalismo fechou a sua mais nobre virtude que é a criatividade.
Boa a iniciativa para driblar a mesmice ( zagueirão, hein ? ) que toma conta de tudo, bloqueando a criatividade jornalística que deveria ser sua principal virtude.