Paróquia celebra novena com drag queen e indígena em Itaquera

Agência Mural

“Penso que a missão principal de um padre é a formação da consciência religiosa e crítica do seu povo, da qual a Eucaristia e os demais sacramentos se tornem bela e comprometida expressão”, é assim que o pároco Padre Paulo Sérgio Bezerra, 62, define a novena da igreja matriz Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, zona leste.

A Igreja Católica tem o costume de realizar novenas dos santos e padroeiros. Em Itaquera, esta iniciativa começou a tomar um viés social no ano de 2006, com o tema Ética e Evangelização e nos anos seguintes outras temáticas foram trabalhadas, como a relação de Deus e a arte (2008) e o feminismo (2013).

Neste ano, com o lema ‘Provados pela vida, arriscam na esperança’, um dos convidados foi o jornalista e morador de Itaquera, Albert Roggenbuck, a drag queen Dindry Buck, que teve espaço na novena para falar sobre diversidade sexual e contar um pouco sobre sua experiência pessoal na missa.

Ao final da missa, os jovens da paróquia chamaram Dindry Buck em tom de acolhida para posar para foto. (Crédito: Dindry Buck/Divulgação)
Ao final da missa, os jovens da paróquia chamaram Dindry Buck em tom de acolhida para posar para foto. (Dindry Buck/Divulgação)

Segundo Buck, o momento mais marcante foi o rito da comunhão. “Fui convidado para distribuir a comunhão e minha mãe recebeu o ‘Corpo de Cristo’ de minhas mãos, enquanto uma menina linda e talentosa cantava “Paula e Bebeto” de Milton Nascimento com o lindo refrão ‘Qualquer maneira de amor vale a pena’, relembrou.

A paróquia de Itaquera também já foi destaque no ano passado quando incluiu em suas preces uma súplica em prol do diálogo sobre as sexualidades, pedindo que as igrejas cristãs possam superar a demonização das relações afetivas, além de rogar pelo fim da criminalidade social e respeito aos direitos dos homossexuais.

Outra presença neste ano, foi a do indígena Karai Popygua, 28, da aldeia índigena Jaraguá. “Uma liderança indígena contando para os fiéis sobre esta violação dos direitos humanos dos povos indígenas que vem acontecendo no Brasil é muito importante e dentro da Igreja, isso é novo”, relatou sobre sua primeira experiência em uma missa.

Para o padre, estes tópicos não são debatidos como deveriam. “Talvez, de todos os clamores, o dos povos indígenas seja o mais distante e desconhecido pelo povo das igrejas e pela sociedade em geral”, disse.

Sete convidados compuseram a programação da novena social deste ano no decorrer de algumas semanas de junho e julho.
Durante a celebração eucarística, por diversos momentos, o indío Karai Popygua auxiliou nos ritos. (Lucas Veloso/Folhapress)

Por outro lado, “há pouquíssimas iniciativas mais ousadas aqui e ali, no sentido da homossexualidade. É um tabu e tratar disso num contexto litúrgico, uma aberração e ‘heresia’ para certo tipo de catolicismo acostumado a sublimar isso como coisa impura, e abraçar o sacrifício como legítima vontade de Deus é a melhor forma de prestar-lhe louvor”, completou.

Para a paroquiana Sônia Helena, 58, a forma de relacionar os temas presentes na sociedade com a religiosidade é algo que traz benefícios aos fiéis. “Em meio a tanto preconceito no mundo, com estas presenças entre nós, sentimos que ainda há esperança”, afirma.

Para Buck, a recepção das pessoas contribuiu para que o acontecimento fosse marcante em sua vida. “Ao final da celebração, muitas mães e pais vieram me abraçar, beijar e relatar que tinham filho ou filha homossexual, bem como algum parente e foi muito importante para eles ouvir meu relato”, reafirmou.

Lucas Veloso, 21, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com

Comentários

  1. Parabéns pela brilhante matéria, abordou de forma imparcial e acima de tudo valorizou o sentimento mais puro, o amor.

  2. Isso não pode ser um padre, são uma vergonha as declarações dele. Se ele quer seguir sua “própria doutrina” a la “vontè”, é livre, mas que saia da igreja. Nós católicos devemos acolher todos sem exceção, a fraternidade acima de tudo, isso é uma verdade, mas concordar com a prática sexual em si, é pecado, segundo nossa doutrina, seja cometido por quem for e que não seja casado. A castidade é uma virtude, portanto nosso catecismo ensina, é necessário cultivá-la. Não adianta querer acomodar a igreja ao bem querer, ao final, quem segue a doutrina é quem é da igreja, os que não querem seguir é somente viver suas vidas livremente sem se importar com o que ela diz ou ensina.

  3. Sou paroquiana desta Paróquia e sinto me honrada em poder participar das celebrações do caríssimo padre Paulo, que nos alimenta a alma com suas belíssimas homilias despidas de ore julgamos e rótulos.
    Homem corajoso e que pode contar com o meu apoio às suas ações e movimentos.
    Luzia

  4. Estão fazendo da igreja um círculo vicioso. Onde tudo é permitido. … Mas, lembrem-se o que aconteceu com Sodona e Gomorra não foi apenas um aviso.!
    É pura justiça. Quem planta o que não deve, poderá colher o inesperado. A morte.

  5. Uma Igreja em saída, como pede o Papa Francisco.
    Assim é a paróquia Nossa Senhora do Carmo , em Itaquera. Uma Igreja com a liberdade do Espírito. Um espaço que busca unidade na diversidade de uma sociedade pluralista marcada pelo contraste social.

    Temos o privilégio de contar com as presenças de índios, gays, negros, leigos, homens e mulheres de Deus que se reúnem em torno da mesa dos iguais.

    Parabéns aos paroquianos pelo engajamento, iniciativa profética e gesto acolhedor.

  6. Deus não é monopólio dos conservadores(embora eles assim pensam).

    Quem disse que uma drag queen não é tão instrumento da mensagem divina
    quanto um senhor sisudo,metido num terno brega?

  7. Uma igreja em saída, como pede o Papa Francisco.
    A Paróquia Nossa Senhora do Carmo, com a liberdade do Espírito, subverte o status quo e acolhe os excluídos da sociedade.

    Pe, Paulo, pároco e profeta da zona leste, investe na formação da consciência religiosa e crítica do seu povo. Ouvir, pensar, refletir é um perigo, pois traz autonomia. Exatamente por isso tal atitude denota gesto profético.

    O Septenário cujo tema foi ‘Provados pela vida, arriscam na esperança’, nos auxiliou a compreender que todos nós somos peregrinos no caminho do outro e que não se trata de perguntar quem é nosso próximo e sim como disse Jesus, saber de quem somos nós próximos.

    Cientes de que Deus vomitará os mornos (Ap. 3, 15-16), sigamos em frente mesmo diante da crítica que há de vir.

  8. Belo trabalho de Igreja seguidora de Jesus de Nazaré. Parabenizo e dou meu apoio. Pe. Geraldo

  9. Parabéns ao Padre Paulo Bezerra e á sua paróquia Nossa Senhora do Carmo!!!! Precisamos de mais padres e paroquianos assim,que sigam esse exemplo para que possamos acreditar num mundo melhor!!!! Que Nossa Senhora do Carmo os proteja, que Deus lhes dê muita saúde, força e coragem para que possam perseverar nessa caminhada!!!!!!! Os admiro muito!!!!!

  10. Parabéns a vocês. Seu trabalho de visibilização dos excluídos e respeito às diferenças que nos constituem é um passo importante para continuarmos a acreditar no coração humano que palpita em nós.
    Um grande abraço. Estamos juntas/os.
    Ivone Gebara

  11. Compreensão, entendimento e o respeito a diversidade na sua plenitude.

    Parabéns ao correspondente pela matéria.

  12. Uma vergonha, a igreja não pode ser um local para a promoção da causa LGBT. Esse padre corrompe os ensinamentos de Cristo, não estou dizendo que não se deve ter um amor fraternal cristão por um homosexual mas Deus não aprova a prática, Atos 15:19,20, e lembrem-se de Sodoma e Gomorra.
    Os que verdadeiramente odeiam homosexuais são os adeptos do movimento gay.
    Segue links de bons textos sobre o tema:
    http://intellectus-site.com/site1/artigos/comportamento/homossexuais-homossexualismo-movimento-anti-homofobia-Deus.html
    http://intellectus-site.com/site1/artigos/atualidades/ambientalismo-aborto-homossexualismo-perseguicao-dos-cristaos.html

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