Rede no Campo Limpo dissemina a economia solidária

Agência Mural

“Quando a gente descobriu, percebeu que já praticava o que a economia solidária trazia como valor há muito tempo”, explica Rafael Mesquita, 32, articulador no Banco União Sampaio, durante o Festival Percurso, realizado no sábado (23), na Praça do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.

Em sua terceira edição, o evento reuniu mais de 150 atividades, desde atrações artísticas e musicais até oficinas culturais. Organizado pela União Popular de Mulheres (UPM) e a Agência Solano Trindade, ele é parte de articulações com grupos empreendedores das periferias da cidade.

“Economia solidária” é a organização de produção, consumo e distribuição de riquezas centradas na valorização das pessoas e não no acúmulo de bens. Existem diversas redes em São Paulo para disseminar este conceito e, segundo Mesquita, o intuito é mostrar aos empreendedores que eles não estão sozinhos e que há espaço para expor seus produtos.

“Muitas vezes [os empreendedores] estão dialogando com a questão da diversidade e não é em qualquer espaço que eles conseguem expor”, explica Mesquita. “Isto vai fortalecendo uma outra cultura, tanto para estes coletivos que produzem, quanto para a periferia consumir, pois ela começa a se identificar também com outras coisas.”

Marina Faustino, 33, é representante de vendas de marcas de roupas e acessórios com temáticas africanas. Para ela, que sempre morou no Campo Limpo e trabalhou com comércio na região, a feira e a rede local ajudam a fortalecer o seu trabalho.

“Muitas feiras acabam acontecendo longe e os próprios moradores de perto acabam não conhecendo tanto. [O evento] é bom para a divulgação da nossa marca próxima de onde a gente mora”, afirma ela, que há seis meses começou também a produzir e vender turbantes. “Decidi fazer porque todo mundo ficou interessado”, conta.

Iniciando seu próprio negócio enquanto trabalhava com uma tia na venda de salgados, Sheila Lima, 18, participou do Festival Percurso pela primeira vez com uma barraca para vender seus bolos. “Eu comecei faz pouco tempo a vender e estava fazendo divulgação no Facebook”, diz ela, que recebeu o convite da organização para participar do evento por meio da mesma rede social.

“Eu achei bem legal a ideia. Como eu estou no início é bom para ter experiência de vender para muitas pessoas”, explica. Sheila ainda convidou dois amigos, Anderson Santos, 18, e Charles Garrido, 19, para ajudar no preparo dos bolos e nas vendas. “A rede é isso, todo mundo se ajuda.”

Veteranos no Festival Percurso, o casal boliviano Gregório Colikue, 47, e Marta Zambrana, 45, participou desde a primeira edição vendendo salgados típicos de seu país. Eles moram e vendem no Brás, zona leste, e já participam de uma rede da região. Foi por lá que foram convidados a ter uma barraca no evento. “Quando falam que tem evento a gente vem”, diz Colikue. Há seis anos no Brasil, já faz cinco que eles trabalham no ramo.

Com o esposo e a filha, Michele Romeiro, 31, moradora de Taboão da Serra, viu o Festival como uma boa oportunidade de conhecer a economia solidária. “Não é só questão do movimento de diversão, mas de girar a economia no local. É uma opção para as pessoas, de todos os níveis, de todas as idades”, opina.

“A rede se constrói muito mais aqui do que nas reuniões. É aqui que as pessoas veem de fato os produtos umas das outras, que elas pensam em parcerias, conhecem alguém”, afirma o articulador Mesquita. “Estes resultados a gente vai vendo. Então o festival é isto mesmo, é este momento, o ápice da organização da galera, festivo. É um momento que dá fôlego para gente continuar se organizando no restante do ano e pensando outras ações.”

Karol Coelho, 24, é correspondente do Campo Limpo
karol.mural@gmail.com

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