Na zona sul, mulheres valorizam plantação local na produção de doces caseiros

É dia de festa na Ilha do Bororé, bairro do distrito Grajaú, zona sul, quando Raimunda Freire Santana, 66, oferece casquinhas de laranja cristalizadas e pedaços de doce de abóbora com coco.

Raimunda, que trabalhou parte da vida como diarista e mora no bairro há mais 30 anos, faz parte do “Mulheres solidárias da Ilha do Bororé”. O grupo vende doces caseiros desde o início do ano e diz ter como missão “resgatar os sabores da infância de maneira saudável e sustentável”.

Formado também por Marlene Maria Mol, 69, Rosa Maria do Carmo, 51, Ana Cláudia Vieira dos Santos, 27, e Cleuza Aleixo Malves, 64, o projeto nasceu em um curso de economia solidária, oferecido pela Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres de São Paulo. Neste ramo econômico, os trabalhadores são os próprios donos e se organizam coletivamente.

Doce de mamão enroladinho - Crédito: Ana Cláudia Vieira dos Santos/Divulgação
Doce de mamão enroladinho – Crédito: Ana Cláudia Vieira dos Santos/Divulgação

No primeiro dia de aula do curso, no salão emprestado por uma igreja do bairro, mais ou menos 20 mulheres compareceram. Hoje, as cinco seguem persistentes no trabalho e, após o término do curso oferecido pela secretaria, já engataram outra formação sobre empreendedorismo.

A ideia de investir em doces surgiu por causa da diversidade de frutas na região, pois a Ilha do Bororé, localizada em uma área de proteção ambiental da Mata Atlântica, possui muitas árvores frutíferas, como mamão, cambuci, laranja e banana.

Além de aproveitar a produção local, há a vantagem de usar produtos sem agrotóxico, o que permite o aproveitamento da casca nos doces. A abóbora e o coco são os únicos vegetais que compram em supermercado.

O cardápio das doceiras conta também com casca de laranja em calda, geleias de laranja e cambuci e doces de mamão verde. Quando vão vender em festas, fazem bolos e tortas. “A gente gosta de criar e experimentar. No doce de abóbora a gente substituiu a abóbora de pescoço pela japonesa”, comenta Marlene Maria Mol, que também arriscou colocar amendoim e casca de laranja em um bolo de fubá.

Doce mamão enroladinho e casquinha de laranja cristalizada - Crédito: Ana Cláudia Vieira dos Santos/Divulgação
Doce mamão enroladinho e casquinha de laranja cristalizada – Crédito: Ana Cláudia Vieira dos Santos/Divulgação

Até o logo do grupo, uma flor de manacá, é criação própria delas. “Escolhemos a flor de manacá por ser típica da Mata Atlântica e porque para nós as diferentes tonalidades de lilás representam a diversidade das mulheres do grupo”, explica Ana Cláudia Vieira dos Santos, responsável pelo desenho.

Com as próprias economias, para montar o negócio elas formaram o capital de giro, valor necessário para manter as despesas operacionais. Mas “nesse mês de julho já conseguimos tirar um pouquinho de dinheiro para nós mesmas”, diz Cleuza Aleixo Malves.

O próximo passo é alugar e estruturar um espaço próprio só para fazer os doces. As vendas acontecem em festas, escolas, feiras de economia solidária e para os vizinhos. Além disso, criaram uma página no Facebook para divulgar o trabalho.

Priscila Pacheco, 28, correspondente do Grajaú
@pricsp
priscilapacheco.mural@gmail.com