Feira livre para pechinchar uns votos

Sabadão é dia de feira livre no Munhoz Junior, bairro de Osasco, na Grande São Paulo. É dia de levar a sobrinha para comer pastel e ajudar a mãe a carregar as sacolas. Eis que a pausa na barraca do pastel estava tranquila, quando fomos surpreendidos pela passagem de um candidato à prefeitura e sua comitiva eleitoral.

Resolvi fazer uma foto do espetáculo e mostrar aquela abordagem para um amigo da cidade, quando fui chamado por um dos assessores de canto:

– Você quer tirar uma foto com ele?

– Não, obrigado.

– É rápido. (Nessa hora, o candidato a vice-prefeito do partido se aproxima com o mesmo xaveco).

Repito que não quero. Digo que talvez minha mãe, mas que ela está comendo, que a consultaria e, depois, se passássemos por eles, talvez fizéssemos. Volto para a barraca e em menos de um minuto, estávamos cercados pelo candidato, seu vice, uma assessora que anotava tudo, o assessor que me chamou de canto, dois fotógrafos rapidamente posicionados e outras pessoas do partido ao redor.

Sem querer ser mal-educado pergunto a minha mãe se ela topa. Ela ri sem graça concordando já com tudo se armando a sua volta. E faz a foto. Não satisfeitos insistem para que eu saia.

– É só uma foto. Eu mando no seu whatsapp.

– Ok.

– Autoriza que publiquemos no face?

– Não. Me mandem apenas pelo whats e tudo bem.

A comitiva segue. Ao prestar mais atenção no que aconteceu, me arrependo fulminantemente. Foi tudo tão rápido que acabei não levando a sério o que havia acabado de ocorrer ali: o modo como somos induzidos e coagidos nessa época de eleição.

É tudo muito invasivo, a abordagem nas ruas, os santinhos despejados na caixa de correios (porque não basta um, enfiam logo dois ou três do mesmo candidato), as placas que pedem para colocar no portão, as faixas, carros de som no último volume etc.

Conversando com amigos surgiram outros exemplos dessa sujeira do vale tudo eleitoral. Uma amiga conta que chamaram sua avó para ser homenageada e ao chegar no local foram surpreendidas por um evento de campanha. A outra encontrou o adesivo de um candidato que ela abomina colado em seu carro.

Deveria ter sido mais incisivo no não; deveria ter gravado algumas propostas de campanhas; deveria perguntar algumas coisinhas que precisava saber… Foi. Fica a dica para quando chegar a sua vez de ficar cara a cara com algum desses.

Para minha indignação, horas depois, encontro minha foto no álbum do dia de feira do político. Denunciei, mandei inbox no Facebook e e-mail, extremamente irritado. Minutos depois apagaram com pedido de desculpas.

Lá, ficaram outras pessoas, crianças sorrindo, apertos de mãos, poses forçadas. Acima de tudo, ficou o uso abusivo da periferia como cenário de fundo perfeito para campanhas e nós, moradores, como modelos de apoio dessa farsa eleitoral.

Cleber Arruda, 35, correspondente da Brasilândia
cleber.mural@gmail.com