‘O bar é a válvula de escape’, diz Tato, há mais de 20 anos no comércio em Mauá
A vida de Luiz Carlos Pessodani, 45, se confunde com a história do bairro Sônia Maria, localizado em Mauá, na Grande São Paulo. O morador viu o local se desenvolver e acompanhou a construção da sua identidade, mesmo diante das recorrentes confusões que associavam o território aos municípios vizinhos, Santo André ou a capital.
Entre as décadas de 1960 e 1970, as ruas do Sônia Maria eram de terra e o bairro parecia uma grande fazenda, com área verde e poucas casas. No espaço, hoje ocupado pelo Terminal Sônia Maria – que liga o bairro ao centro de Mauá, São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo- havia um campo, palco para apresentação de circos e do futebol de domingo.
“Tem gente que fala que não mora em Mauá, porque aqui é considerado terra de índio. Se me perguntam, eu falo que moro no Sônia Maria, Mauá, divisa com Santo André e São Paulo”, diz Luiz, que nasceu em Mauá.
O orgulho de pertencer ao bairro não é à toa. Foi no Sônia Maria que Luiz, mais conhecido como Tato, cresceu e construiu sua vida de comerciante. Apesar de não ter enfrentado dificuldades financeiras, quando era criança começou a trabalhar como engraxate para ganhar o próprio dinheiro.
Do trabalho nas ruas, o morador passou a trabalhar em um bar com apenas oito anos. Aos 16, após juntar dinheiro e vender uma moto, veio sua primeira conquista: a abertura do próprio negócio.
“Era na época do [presidente José] Sarney e a inflação estava inconstante. Com o aluguel variando muito, decidi construir um bar ao lado de casa”, relata Tato.
Se construir o bar foi uma tarefa difícil na época, hoje ele não tem do que reclamar da clientela local, fidelizada ao longo dos anos. Atualmente, o maior desafio do é conquistar novos fregueses.
“Meu público tem de 40 anos para cima, outros já morreram. Os jovens não se interessam em ficar aqui, procuram lugares localizados mais no centro para se divertir”.
Outro desafio encontrado por donos de bares na periferia é a concorrência. “Você vai encontrar um bar à cada esquina e não temos público para isso”, complementa. Em um raio de um quilômetro é possível encontrar no mínimo cinco bares.
A segurança também é um fator preocupante para os negócios. Com anos de experiência na área, Tato sofreu o primeiro assalto em 2015 e teve um prejuízo de R$ 500 na ocorrência.
Hoje, além de vender as mais variadas bebidas e cigarros, o bar do Tato possui comidas. Entre elas, o tradicional mocotó.
Durante sua trajetória, ele já deixou o bairro para morar no interior por cinco anos. No entanto, o caminho de casa falou mais alto, e Tato decidiu voltar ao local que tanto se orgulha.
Ele se divide entre a administração do bar e o trabalho como feirante, mas sente ter importância até na ajuda aos frequentadores. “O bar é a válvula de escape, e o dono funciona como psicólogo do cliente. Tem que ficar do lado e compreender. Já levei vários clientes embriagados de volta para casa”, conta.
Laiza Lopes, 24, é correspondente de Mauá
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