‘O que me agrada é ver alguém saindo com um livro na mão’, diz escritor do Campo Limpo na Felizs

“Hoje foi um dia de muita serenidade, que a gente estava trabalhando, brincando e se divertindo, distraindo a mente”, conta o gari Olípio Pereira de Melo Filho, 40, que trabalhou neste sábado (24) na Praça do Campo Limpo, durante o dia de encerramento da segunda edição da Felizs (Feira Literária da Zona Sul), organizada pelo coletivo Sarau do Binho.

Morador do Jardim Comercial, bairro do distrito do Campo Limpo, Olípio disse que não frequenta eventos como este. “Não costumo porque trabalho de segunda a sábado, só temos domingo de folga. Há muitas prioridades”, explica. “Hoje foi um divertimento para nós, não foi trabalho”.

O vizinho e também colega de trabalho Thiago Ferraz, 28, concorda. Ele conta que o dia foi “favorável”. “Praticamente quem faltou hoje, se lascou”, diz aos risos.

A Felizs realizou duas semanas de atividades neste ano, com diversas atrações musicais, oficinas e conversas literárias em cerca de 20 espaços diferentes, entre bibliotecas, CEUs e espaços culturais da região da zona sul.

Com todas as atividades gratuitas, a organização buscou aproximar temas sociais, como diversidade, gênero e literatura oral, por exemplo, do universo da literatura, além de envolver várias linguagens artísticas. Diana Padial, idealizadora do evento, disse que essa foi uma questão pensada.

“Com o que dialoga a literatura? Ela dialoga com uma diversidade de pessoas que se aproximam através do sarau. Elas compõem uma rede de articulação, e a partir dessa rede a gente tem o sarau na essência, que é essa diversidade de múltiplas linguagens”, explica.

O vigilante Roberto Rodrigues, 48, foi convidado pela irmã, que faz parte da organização da feira, para ajudar nos bastidores. Ele não havia participado de nada como a feira antes, mas gostou de tudo o que conseguiu ver enquanto trabalhava. “É muito importante porque une a comunidade e abre a nossa mente”, diz.

“A coisa mais linda de todas é ocupar o espaço público, é a gente estar na rua, na praça. Todas as pessoas têm acesso. Isso fortalece o conhecimento para quem quer chegar, quem quer se aproximar e discutir literatura, independente de quem seja”, afirma Diane.

O escritor Levi de Souza, 40, conhecido como Fuzzil, é morador do Parque Fernanda, região do Capão Redondo, e já partipou das duas edições da feira.  Ele diz que apoia a mistura entre a literatura e as artes. “Eu comecei mesmo pelo hip-hop, o hip-hop me mostrou tudo isso. A gente veio descobrindo a literatura, essas artes, e no nosso bairro temos tanta gente talentosa.”

Alfabetizado aos 17 anos e com três obras publicadas, ele diz que não recebe convites para participar de feiras tradicionais, como a Bienal do Livro, por exemplo, e que a Felizs é uma oportunidade de conhecer outros autores e de dialogar com quem conhece seu trabalho, dividindo espaço com outros autores. “Não tem concorrência, é questão de fortalecimento, é o incentivo à leitura. O que me agrada é ver alguém saindo com um livro na mão, independente do título, de qual editora que é e do autor”, afirma.

Olípio e Thiago não costumam ler, mas cada um pegou, gratuitamente, dois livros no acervo da bicicloteca, uma biblioteca ambulante. “Livrinho de criança, historinhas, peguei para minha menina, de 8 anos”, conta Olípio.

Karol Coelho, 25, é correspondente do Campo Limpo
karol.mural@gmail.com

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