Travesti compartilha vitória contra o preconceito em Centro LGBT na zona norte
Bianca Lopes, 58, saiu aos 16 anos de Juazeiro, na Bahia, se chamando Antônio Lopes dos Reis, com o sonho de vencer na vida e se afastar do preconceito que sofria por sua orientação afetiva.
Seu destino foi a cidade de São Paulo, onde começou a trabalhar como vendedora de roupas. Hoje, travesti, com um RG novo, possui três lojas e ajuda seus familiares que ainda residem no Nordeste.
Os anos de luta contra o preconceito se tornaram lições de vida, agora transmitidos a outros jovens que enfrentam a homofobia. Ela é voluntária e conta sua experiência em reuniões quinzenais, no centro de cidadania LGBT (Lésbicas, gays, Bissexuais e Transgêneros) Luana Barbosa dos Reis, na Parada Inglesa, zona norte de São Paulo, inaugurado em setembro.
“Sofri abuso sexual do meu tio durante anos”, conta Bianca, que enfrentou o preconceito do seu pai e a ausência de orientações sobre como lidar com o preconceito por ser travesti.
A comerciante relata que após a descoberta de seu pai, seu tio lhe deu dinheiro e a mandou para São Paulo, para que ela pudesse viver longe de lá. Só retornou à cidade natal para atender um pedido de perdão do seu pai, antes dele falecer.
Atualmente, Bianca mora no mesmo bairro do centro de cidadania, mas já participava de reuniões na unidade localizada no Largo do Arouche, região central.
“O novo local ajudará na conscientização dos moradores que enfrentam a insegurança e o medo. Além disso, nos encontros, as pessoas poderão conhecer um pouco mais sobre a nossa realidade de vida”, conta.
O espaço tem como missão garantir a defesa dos direitos humanos por meio do atendimento às vítimas de preconceito, discriminação e violência, além de contar com apoio psicológico, jurídico e de serviço social para realização de boletins de ocorrência e demais orientações.
Para a coordenadora do centro, Keith Cristine Horta, o trabalho é ainda mais difícil em regiões periféricas. “Às vezes as denúncias não chegam, às vezes os casos de homofobia não chegam, então é importante ter esses equipamentos descentralizados”.
O local recebe o nome em homenagem a uma mulher, lésbica, negra, mãe e da periferia. Luana Barbosa dos Reis, 34, morreu no dia 13 de abril, após ter sido vítima de um ataque, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A jovem foi espancada por policiais militares na frente do seu filho de 14 anos, após negar ser revistada por policiais femininas.
“Muitas vezes, os frequentadores não sabem os direitos que têm, e a existência de um centro de referência é fundamental para acolher, orientar e encaminhar”, avalia Telma de Oliveira, 42, moradora do bairro.
Além do espaço fixo, o projeto também terá uma Unidade Móvel, que percorrerá os extremos da região norte, de quinta a domingo, sempre no horário noturno e servirá como uma porta de entrada para que novos frequentadores utilizem a unidade fixa.
O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, na Rua Plínio Pasqui, 186. Telefone: (11) 2949-2781
Eduardo Micheletto, 35, é correspondente do Jardim Brasil
eduardomicheletto.mural@gmail.com