Artistas da zona norte superam ‘perrengues’ para realizar Mostra na Brasilândia
Enfrentando adversidades das mais comuns até as imprevistas, coletivos culturais e artistas garantiram uma vasta programação de shows e atividades da primeira mostra cultural “Se Mostra ZN”, no último fim de semana, no Jardim Damasceno, bairro do distrito da Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
Apesar da falta de recursos, da chuva com queda de energia e a desistência de uma assistência da prefeitura, foram dois dias (10 e 11 de dezembro) de intensa programação no Espaço Cultural, com rodas de conversas, workshops, danças, teatros e shows organizados pelo Fórum Cultural da ZN, que reúne artistas e produtores culturais atuantes na região norte da capital.
A produtora audiovisual Ingrid Felix, uma das organizadoras do evento, conta que a ideia surgiu por conta da necessidade de conhecer os artistas e atores sociais da região e que o resultado foi alcançado.
“Pudemos olhar no olho do outro e saber o que os irmãos e irmãs estão fazendo e articulando nas quebradas da zona norte. Até porque a região sempre foi vista como não articulada, principalmente com relação à cultura”, diz.
Os artistas vieram de todos os cantos da zona norte. O rapper e produtor musical Vinny Shaman, 21, por exemplo, mora no Jardim Vista Alegre, bairro vizinho. “Fiquei sabendo que era próximo da minha comunidade e achei perfeito. Sempre acho especial tocar em comunidades, pois sinto que é um povo que vive o que eu vivo, então fica fácil se identificar com minhas letras”, conta.
A sua apresentação aconteceu no sábado à noite, após uma tarde conturbada por conta da chuva e da queda de energia que atrasou os shows programados. Na sequência se apresentaram as bandas Entropia, Febre Terçã, Filosofia Roots e Davi Dariloco. O encerramento ficou por conta da apresentação do rapper Lúcido, que dividiu o palco com Shaman.
A principal dor de cabeça dos organizadores surgiu um dia antes do evento, quando a Secretaria de Direitos Humanos cancelou a disposição de dois ônibus que estavam acertados para fazer o transporte de público e artistas entre as casas de cultura do Jaçanã e Tremembé para o local do evento.
Segundo a produção da mostra, todos os formulários e quesitos solicitados foram encaminhados dentro dos prazos estipulados, mas, às vésperas do evento, eles receberam uma ligação informando que os ônibus haviam sido cancelados com a justificativa de que era final de gestão e os contratos acabaram.
“O que deu errado na mostra foi por falta de apoio institucional. A precariedade que passamos para organizar ações como essa, falta de grana, acaba deixando algo. Mas de qualquer forma ficamos muito felizes no final”, ressalta Ingrid.
Para artesã Wilma Mieko Kida, 54, moradora do bairro Tietê, o saldo foi positivo. “Fiz muitos contatos e pude divulgar o meu trabalho. Acho que é isso mesmo, essas praças e espaços nas periferias precisam ser aproveitados assim”.
Com programação intensa, a produção conta ter contado com até 30 pessoas participando de atrações em espaços simultâneos e se empolga. “A ideia é que façamos uma edição por ano, não só com apresentações, mas também para discutirmos sobre nosso território e quais as ações tomarmos para um melhor desenvolvimento da nossa região”, avalia Ingrid.
PREFEITURA
Procurada, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania afirma, por meio de nota, lamentar a situação, mas alega que houve atraso na informação do endereço.
“A confirmação sobre o roteiro a ser seguido pelos ônibus é uma informação essencial para realizar a contratação dos veículos, que precisa ser feita com 48h de antecedência. O itinerário do Fórum Cultural Zona Norte foi enviado após esse prazo. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), por meio da Coordenação de Políticas para Juventude, fez o possível para conseguir atender ao pedido, mas não foi possível”, diz o texto.
“Diante disso, a SMDHC pede desculpas e lamenta o acontecido. A promoção da cidadania por meio de atividades culturais é um dos principais eixos de atuação da pasta, que valoriza iniciativas das comunidades realizadas nos territórios e espera que o evento em questão tenha alcançado seu objetivo.”
Cleber Arruda, 35, é correspondente da Brasilândia
cleber.mural@gmail.com