O dia em que recebi uma peça de teatro no quintal de casa
Recebi neste mês um grupo de teatro para realizar a apresentação de uma peça no quintal da minha casa, em Artur Alvim, zona leste de São Paulo.
Ao lado de amigos e familiares acompanhamos a iniciativa do Coletivo Cultural Sankofa, formado por artistas-educadores que, desde 2012, pesquisam e desenvolvem ações em arte e educação sobre questões que envolvem os direitos humanos, com destaque para reflexões sobre sexualidade e gênero.
Com apoio do Programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura, o grupo começou o projeto Minha Casa Tem Armários, que inclui a apresentação da peça “Aonde Nasce o Arco-íris? e divulgaram em suas redes sociais que o projeto contemplava exibições em casas da zona leste. Me inscrevi para recebê-los e agendamos uma data.
O lançamento do espetáculo ocorreu em outubro no parque do Carmo, em Itaquera, e a minha casa foi a primeira a participar da experiência nas residências. Segundo o diretor da peça, Adriano Mota, 32, a ideia de realizar as apresentações nos lares tem a ver com a temática da peça.
“Aonde Nasce o Arco-íris?” conta a história de Maria, uma boneca que sente que quer ser uma menina, e do Rafa, um menino que gosta de vestir vestidos, mesmo com a reprovação do pai. Apesar da linguagem e dos figurinos infantis, o grupo afirma que o espetáculo é para todas as idades.
“É em casa que se inicia, muitas vezes, a opressão, o preconceito, a homofobia. Os movimentos precisam dialogar mais com as famílias, no trabalho, no dia a dia”, afirma Adriano.
No dia em que meu quintal se transformou em teatro, combinei com o grupo que a apresentação começaria às 16h. Eles chegaram uma hora antes para montar o cenário e se arrumarem no camarim improvisado na área de serviço.
O público foi pequeno e apenas sete pessoas assistiram à peça. “A gente procura atividades para crianças, teatro, cinema, mas falta incentivo”, disse Giovana Macedo, 30, minha amiga que levou a filha Yasmin Vitória para acompanhar o evento.
Durante a apresentação, caiu uma chuva forte e os convidados se espalharam para se proteger. Mesmo assim o grupo continuou até o fim da história, usando até o guarda-chuva que fazia parte dos objetos cênicos. Após a peça, ofereci toalhas para o grupo se enxugar e realizamos uma roda de conversa para discutir os temas abordados, com um lanche gentilmente cedido pelo coletivo.
“Foi uma oportunidade única receber um teatro e ainda discutir esses assuntos”, relatou Maria Alice Alves, 30, minha amiga, nutricionista que trabalha em um colégio. “Acontece de meninos gostarem de se maquiar, brincar de bonecas. Agora vou olhar a situação de outra forma”, relatou.
“Às vezes a gente que sexualiza as crianças, elas devem ser livres para brincar”, afirmou a atriz Tata Ribeiro, 27, que também é educadora da rede municipal de turmas do ensino fundamental.
O Coletivo Cultural Sankofa continuará as apresentações nas casas de moradores em 2017. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail minhacasatemarmarios@gmail.com.
Lívia Lima, 27, é correspondente de Artur Alvim
livia.mural@gmail.com