Documentário conta histórias de mulheres periféricas de São Paulo
“Nasci no sertão da Bahia, não tinha nada, não tinha água, não tinha luz, não tinha ônibus, às vezes até faltava alimento, não tinha como estudar”, conta Joana Ferreira, moradora do Parque Santo Antônio, zona sul da cidade e uma das protagonistas do curta “Nós, Carolinas”, que será lançado hoje (8), Dia Internacional da Mulher, às 19h, na Galeria Olido.
As entrevistadas têm entre 18 e 93 anos, embora possuam trajetórias diferentes, estão conectadas por elementos cotidianos, como os impactos do machismo e desigualdades raciais e sociais ainda presentes no Brasil. Além da Joana Ferreira, o documentário conta a história de mais três mulheres: Carolina Augusta, da Jova Rural na zona norte, Renata Ellen Soares, de Perus na região noroeste e Tarcila Pinheiro, de Guaianases na zona leste.
Produzido pelo coletivo Nós, mulheres da periferia, formado por comunicadoras que promovem narrativas sobre ser mulher nas margens da cidade de São Paulo, o vídeo conta a vivência e voz dessas quatro mulheres que moram em diferentes bairros da periferia de São Paulo, que falam o que é ser mulher da periferia.
“Não temos a pretensão de representar as mulheres da periferia de forma única, mas sim de partilhar histórias pessoais que são ignoradas ou desvalorizadas, sem nos acomodarmos com rótulos e estereótipos, buscando reconhecer a diversidade do universo feminino nas periferias”, explica Bianca Pedrina, jornalista e cofundadora do Coletivo.
Em entrevista para o Blog Mural, Tarcila Pinheiro conta que está ansiosa para a pré estreia. Ela nasceu no Ceará, mora em Guaianases desde os 10 anos e acredita que o documentário vai motivar principalmente as mulheres periféricas. “A minha história não é singular, ela já aconteceu e acontece todos os dias com tantas mulheres que lutam pra seguir em frente. Falar de nós significa valorização e reconhecimento de todas as Carolinas da nossa querida e sofrida periferia”, declara.
Já Joana, que veio para São Paulo aos 19 anos, revela que apesar de querer estudar, sua prioridade era trabalhar e criar os filhos. Hoje aos 50 anos, ela diz que estuda porque conheceu o CIEJA, Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos no Campo Limpo, que possui vários horários para estudar, o que facilitou para ela que só consegue chegar para a aula às 20h.
“Criei dois filhos sozinha, fui discriminada, escutava coisas que assustam, de que eles iriam virar bandidos, que eu não teria coragem de trabalhar e abandonaria eles. Mas eu tive coragem, tive peito, cheguei a trabalhar em dois empregos e vivi para eles. Me sinto feliz e realizada, porque olho para o meu filho e hoje vejo ele pai. E agora que tenho a oportunidade de estudar, estou amando e me realizando. Mal sabia escrever meu nome e meu sonho é pegar meu diploma, deve ser lindo”, diz emocionada.
Este é o primeiro documentário realizado pelo coletivo, que por meio da história dessas mulheres aborda temas como racismo, solidão, maternidade, autoestima e as condições de ser mulher, negra e periférica. Durante o mês de março, o curta entra em circuito em diferentes regiões da cidade. A pré-estreia e demais exibições são gratuitas.
Serviço:
Pré-estreia do documentário “Nós, Carolinas”
Data: 8/3, às 19h
Local: Galeria Olido – Av. São João, 473 – Centro, São Paulo
Circuito
11/3 às 15h– Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes –Rua Inácio Monteiro, 9600 – Cidade Tiradentes
16/3 às 20h– CIEJA Campo Limpo – Rua Cabo Estácio da Conceição, 176 – Parque Santo Antônio.
18/3 às 14h– Biblioteca Cora Coralina – Rua Otelo Augusto Ribeiro, 113 – Guaianases
24/3 às 20h– Biblioteca Padre José de Anchieta – Rua Antônio Maia, 651 – Perus
Cíntia Gomes é correspondente do Jardim Ângela
cintiagomes.mural@gmail.com
Que bom que estão interessados em divulgar a cultura popular.