Mural faz campanha para passar de coletivo a associação sem fins lucrativos
Do Jardim Ângela, no extremo sul da cidade de São Paulo, à Jova Rural, na zona norte. De Perus, na região noroeste, à Cidade Tiradentes, na zona leste. De Itapevi a Mogi das Cruzes, na região metropolitana, a Agência Mural de Jornalismo das Periferias tem garantido, desde 2010, que a realidade e as notícias dessas áreas sejam cobertas por correspondentes locais –os muralistas– residentes dos mais variados bairros e municípios da Grande São Paulo.
A partir desta segunda (13), o coletivo inicia sua primeira campanha de financiamento coletivo em seis anos de existência. O objetivo é coletar recursos para formalizar a Agência Mural como uma associação sem fins lucrativos, e a partir daí poder fortalecer seu trabalho e amplificar seu impacto.
Com o objetivo de contar histórias e dar voz aos moradores das periferias da região metropolitana, o Mural mostra o que acontece nessas geografias, sem focar apenas na violência ou nas “boas ações” de grandes empresas ou fundações.
Esse “viés” comprova que para além de retratar mais de 80% do território metropolitano como locais onde os cidadãos estão à mercê da violência ou apenas aguardando serem “ajudados”, mostramos que, apesar das desigualdades em infraestrutura e presença do Estado nesses locais, suas populações têm realidades semelhantes e engajam-se para garantir seus direitos e para que seus bairros sejam reconhecidos como tal.
Atualmente, mais de 60 dispersos em dezenas de periferias em relação ao centro político-econômico da capital paulista. Desde o início, foram mais de 1000 histórias publicadas.
A correspondente da Jova Rural, Aline Kátia Melo, revela que escrever sobre seu bairro no Mural possibilitou dar visibilidade às boas iniciativas, e sobre o que precisa e deve melhorar na região, e conta também alguns resultados obtidos após a publicação de suas matérias.
“No meu bairro, eu vi lombada que tinha sido retirada voltar a ser colocada. Muitas vezes, fatos simples como esse salvam vidas e a gente não se dá conta porque notícia geralmente é o que não dá certo, o acidente, a morte, algo que desperte o sensacionalismo. Porém, resolver uma possível causa de acidente tem menos impacto como notícia, mas não é menos importante. O Mural mostra não só os problemas, mas também as soluções ou aponta caminhos de discussão.”
Ela diz ainda que a maior conquista é que os moradores das regiões reconheçam as qualidades, descubram e discutam os problemas de seus bairros, engajem-se e reapropriem-se deles, que é seu presente. “O jornal possibilita que as pessoas saibam notícias do mundo inteiro, mas muitas vezes não informam o que acontece onde você mora, principalmente se você mora nas periferias. Acho que o Mural cumpre sua missão de cobrir essa lacuna de notícias sobre as periferias na grande mídia.”
Já o correspondente de Paraisópolis Vagner Alencar revela o quanto fazer parte do Mural contribuiu para mostrar o outro lado do seu bairro. Em 2011 recebeu o Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, em 2013 ele publicou o livro “Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo”, que foi a ampliação de seu trabalho como correspondente, e agora é um dos selecionados e representará o Brasil no ‘International Leadership Program’, de 24 de março a 21 de abril, nos EUA.
“A Agência Mural foi um divisor de águas na minha vida. Ter iniciado no projeto ainda estudante me possibilitou, desde a faculdade, aprender técnicas jornalísticas e o quão importante socialmente o jornalismo é para minimizar desigualdades e retratar as diferenças”, afirma Vagner.
“Nenhum dos envolvidos na Agência Mural são remunerados pelo seu trabalho ali e todos exercem atividades profissionais paralelas. Imaginem o que poderemos fazer se começarmos apenas a ter mais tempo para nos dedicarmos à missão da agência?”, questiona a jornalista Izabela Moi, co-fundadora e gestora da Agência Mural.
Para contribuir com os custos de formação da agência como associação sem fins lucrativos, a doação poderá ser feita aqui no valor de R$ 10 a R$ 5.000, com direito a recompensas como nome no site oficial, camiseta, livro, entre outros.
Cíntia Gomes é correspondente do Jardim Ângela
cintiagomes.mural@gmail.com
Quero ajudar essa iniciativa pois crédito nos princípios do Mural. Trabalhei como educadora vários anos na periferia e conheço a sua realidade. Vamos em frente, moçada!