Sabão é principal meio de reúso de óleo de cozinha e maioria desconhece pontos de coleta
Antônio Santana Junior, 18, começou a estudar Química no ano passado em uma escola técnica (ETEC). Morador do bairro de Vargem Grande, no extremo sul de São Paulo, ele sempre se interessou pelo meio ambiente e chegou a passar na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mas não pode começar pela distância.
Apesar do interesse, ele conviveu com um exemplo desde cedo sobre o reuso de materiais que podem prejudicar a natureza. Na escola estadual José Geraldo de Lima, também na zona sul, ele participou de um projeto que ensinava como reutilizar o óleo de cozinha. Em casa, o costume sempre existiu.
“De vez enquanto minha mãe guardava o óleo. Ela dava para a UBS [Unidade Básica de Saúde] ou então para a vizinha que faz sabão”, relembra. A vizinha revendia o produto e oferecia desconto para quem doava o material.
A cena vivida pelo estudante não é isolada. No entanto, o conhecimento dos locais que recebem esses resíduos ainda é um desafio.
Levantamento da Agência Mural com 145 moradores da capital e da Grande São Paulo mostra que a maioria doa o óleo de cozinha para quem reaproveita. No entanto, muitos não sabem se existem postos de coleta no bairro onde vivem. Segundo a prefeitura, há 222 postos só na capital paulista.
O levantamento ainda indica que o destino mais comum do óleo reaproveitado em casa ou doado é a fabricação de sabão caseiro, 31%. Menos de 1% respondeu que faz detergente. Vela não foi citada e houve quem afirmou aproveitar o óleo, mas não indicou qual o produto fabricado.
Outro destaque foi a utilidade do sabão e detergente feitos com o óleo. 31,7% afirmaram que usam os produtos em casa. Somente 0,7% vende e 0,7% doa. Por fim, 84,8% das pessoas afirmam saber que o óleo polui a água e 15,2% responderam que não sabiam.
CONSCIENTIZAÇÃO
“A minha consciência ambiental mudou em muitos aspectos. Comecei a pensar: E a minha parte? Eu não tô fazendo?”, diz a estudante de biomedicina Samantha Cintra,17, ao falar sobre a reciclagem de óleo usado de cozinha que começou a fazer nas aulas de exatas na escola José Geraldo de Lima, onde foi colega de Antônio.
“Eu estudei na mesma escola desde a oitava série e nunca tinha tido um projeto que fizesse a gente a pensar no nosso mundo”, completa a garota que foi além dos impactos negativos causados na natureza pelo descarte incorreto de óleo.
Agora ela também pensa em problemas como o desmatamento e efeito estufa. “Foi algo que me abriu portas”, finaliza.
Cintra terminou o ensino médio em 2016 e hoje dá aula particular de matemática para ajudar a pagar a mensalidade da faculdade de biomedicina. Ela foi aluna de Cristiane Lacerda, 37, a professora que mescla aulas de matemática e física com a reciclagem de óleo de cozinha para estimular o cuidado para com o meio ambiente.
Lacerda relata que o objetivo das aulas é contribuir para a conscientização do estudante desde criança até chegar no terceiro ano do ensino médio.
“Quero que ele se torne um cidadão consciente capaz de transformar o próprio mundo de uma maneira sustentável. E isso eu não quero que fique dentro da escola. Quero que se expanda e que os alunos levem para fora”.
DESCARTE INCORRETO
De acordo com a Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São Paulo, o óleo de cozinha, por ser menos denso do que a água, pode se estabelecer na superfície do corpo hídrico e impedir trocas gasosas.
Isso causa decomposição anaeróbia, degradação da matéria orgânica sem oxigênio, o que produz gases como o metano, que em excesso contribui para o aquecimento global, e o sulfídrico, cuja propagação polui a água e causa o mau cheiro.
Todavia, a Cetesb informou que não é possível mensurar, isoladamente, o impacto ambiental do descarte de óleo de cozinha nas águas da Região Metropolitana de São Paulo.
“Além desse produto, temos também óleos de veículos, óleos industriais, óleos combustíveis, graxas animais, graxas industriais e de uso automotivo, que podem se estabelecer na superfície das águas e prejudicar a aeração delas e, assim, comprometer a vida de organismos aquáticos”.
Já a Sabesp informou que o lançamento de óleo no solo também é prejudicial, pois causa a proliferação de microorganismos e danos às plantas. Outro ponto levantado pela instituição é que hospitais, hotéis, restaurantes e lanchonetes são obrigados a instalar caixa retentora de gordura para que o óleo não vá direto para a rede de esgoto. A obrigatoriedade está descrita no artigo 15 do decreto estadual 12.342/78.
“A manutenção e retirada dos resíduos retidos pelo equipamento devem ser realizadas constantemente. A Sabesp não é responsável pela instalação e manutenção da caixa retentora”, finaliza a instituição.
Priscila Pacheco é correspondente do Grajaú
priscilapacheco.mural@gmail.com
A palavra “reuso”, que aparece no título da matéria deve ser escrita com acento: reúso.
Olá Priscila,
Aqui em Florianópolis minha empresa possui um projeto chamado REÓLEO.
Eles coletam o óleo de cozinha dos estabelecimentos comerciais e também de condomínios, reciclando, e em troca, deixando materiais de limpeza.
Um projeto muito bacana!
Já ganhamos por duas vezes o Guinness Book,em 2012 e 2015, quebrando o próprio recorde de óleo de cozinha coletado.
Muito bom saber que há em outros estados ideias para cuidar do meio ambiente.
Um abraço!