Índios de São Paulo protestam por demarcação indígena que se arrasta há 30 anos
Entre os protestos que marcaram o Brasil na última sexta-feira (28), um deles foi além da preocupação com aposentadoria e com a reforma trabalhista. Índios da zona norte da capital bloquearam a Estrada Turística do Jaraguá para cobrar a demarcação de terras das tribos na região metropolitana.
Uma caminhada também ocorreu na zona sul, onde um processo para regularizar uma área se arrasta há quase 30 anos.
A falta da demarcação física é a maior preocupação do povo Guarani Mbya, que vive em Parelheiros, zona sul da capital. A região abriga parte da Terra Indígena (TI) Tenondé Porã, demarcada em 1987, mas que teve o reconhecimento assinado pelo ministro da justiça somente no dia 5 de maio do ano passado.
Desde então, a Tenondé Porã possui quase 16 mil hectares de terra (ou 159 quilômetros) entre os municípios de São Paulo, Mongaguá, São Vicente e São Bernardo do Campo. Quase um ano depois de o processo ter sido registrado no Diário Oficial da União, não houve a regularização para assegurar a posse dos indígenas.
A líder indigena Jera Guarani, 36, mostra pouca esperança na resolução do impasse junto ao governo federal. “Não podemos contar com [presidente Michel] Temer. Não podemos contar com o presidente da Funai ´[Antonio Costa]”, afirmou.
A desolação vem com o sentimento de que o atual presidente da Funai é anti-indígena. A Funai não respondeu aos questionamentos sobre a situação da região.
A demarcação em todo o país também foi uma das pautas do 14º Acampamento Terra Livre, realizado em Brasília (DF) entre 24 e 28 de abril. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), mais de quatro mil lideranças indígenas participaram do evento.
Na tarde da última terça-feira (25), eles fizeram uma marcha até o Congresso Nacional, mas foram reprimidos pela Polícia Militar.
Em São Paulo, antes do protesto, também houve um debate no evento “Dia do Índio para quem? Guarani Mbya resiste!”, promovido pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – Cedeca Interlagos.
Eles também cobraram uma maior presença do tema nos debates nacionais. “Na televisão não passa nada de realidade sobre o povo indígena, assim como não passa nada de verdade das periferias da cidade”, completa Jera, ao falar da importância de promover encontros com os juruás, modo como chamam quem não é indígena. “Nós temos a nossa civilização. É diferente de vocês, mas temos”.
Também houve uma apresentação de um dos sete corais da Tenondé Porã, que apresentou músicas religiosas cantadas nos cultos das aldeias.
Na região, eles cultivam mais de 40 tipos de batata doce, milho guarani, amendoim, feijão, entre outras sementes. As aldeias de Parelheiros são abertas para visitação e não há apenas um líder para tomar decisões. As decisões são tomadas em grupo e a liderança é composta por mulheres e homens em números iguais.
O território possui posto de saúde, acesso à internet e Centros de Educação e Cultura Indígena (CECIs) da rede municipal de ensino de São Paulo.
“A gente é um povo muito feliz e dá muita risada. E temos a cultura muito forte apesar da influência dos juruás”, diz Jera.
Apesar da luta pela terra, a população da Tenondé Porã avalia como positiva sua situação em comparação com os Guaranis Mbya da TI Jaraguá, na zona norte, que participaram da manifestação. O território do Jaraguá é considerado a menor terra indígena do Brasil por possuir apenas 1,7 hectare, fato que dificulta o cultivo de alimentos, além de estar mais perto das zonas urbanas.
Além do governo federal, os índios mostraram preocupação com os rumos na própria capital, como um projeto de transformar Parelheiros em um polo de ecoturismo proposto pelo novo prefeito regional, Elard Biskamp. Há o temor de que sejam tomadas decisões sem a consulta do povo indígena.
Priscila Pacheco é correspondente do Grajaú
Bloquear ruas, avenidas e rodovias dia e noite…ai serão notados e o caso resolvido! É o q funciona no Brasil corrupto.