Noivos vendem trufas em estação de Guaianases para bancar casamento
“Oh, irmãozinho, você é casado? Compra uma trufa, me ajuda a casar.”
Foi assim que Gustavo Menevides Monte, 23, abordou durante dez meses as pessoas que passavam pela estação Guaianases da CPTM, na zona leste de São Paulo. O dinheiro arrecado com as trufas iriam ajudar em seu casamento com a designer e confeiteira Caroline Menevides Monte, 20.
Desde o início do namoro, os dois já pensavam no casório e, no período do noivado, começaram a pesquisar para terem noção dos gastos, quando viram que seria impossível fazer a cerimônia que queriam, pois faltava dinheiro.
Nessa hora, foi a ideia dada pela avó de Caroline que começou a ser colocada em prática: sair para vender algum doce na rua para ajudar no casamento.
Os noivos, cristãos evangélicos e amantes da cultura nerd, se conheceram numa igreja de Guaianases, há dois anos.
“Nosso relacionamento começou pela zoeira, eu sempre fui zoeiro na minha família e ela também na dela. Quando nos vimos, teve aquela troca de olhares, risadinhas, tudo bem divertido”, afirma Gustavo.
“Eu pensei em levar a plaquinha, falar do casamento pra ver se assim, a gente conseguia amolecer mais o coração das pessoas, pra elas nos ajudarem”, relembra a confeiteira que teve a ideia de postar uma foto que tiraram no primeiro dia de trabalho. A imagem gerou um alcance inesperado e a ajuda voluntária de algumas pessoas.
Todo sábado, por volta das 8h, eles chegavam com uma centena de trufas para serem vendidas. No primeiro dia, levaram só trinta, pois achavam que a procura seria pequena, mas no decorrer das semanas, passaram a aumentar a quantidade, com valores de R$ 1 a R$ 3. Em grande parte das vezes, conseguiam vender todas até a tarde.
No final, eles arrecadaram cerca de R$ 6 mil. “Não pagamos o casamento todo com esse valor. Ganhamos muita coisa de presente e também juntamos com nossos salários e tal. Porém, ajudou muito. Foi o que salvou pra ficar tudo certo.”, diz Caroline.
As reações das pessoas que viam o casal eram das mais diversas, desde quem os ignorava até aqueles que os mandavam “ir trabalhar”. “Aqui todo mundo agia espontaneamente. A plaquinha falava por si só, gerava muita curiosidade, e tinha gente que nem levava a trufa, só deixava o dinheiro para nos ajudar. O mais legal era reação de quem passava”, relembra Caroline.
Quando conseguiram o valor, o casamento aconteceu. Os dois trocaram alianças há seis meses e, hoje, são moradores de Guaianases, onde alugaram um apartamento.
“A gente demorou um pouco para se acostumar com a rotina, mas ele [Gustavo] me ajuda muito. Quando precisa, ele faz a comida, arruma a casa, é bem dividido o nosso serviço. Não existe aquilo de a mulher faz tudo e pronto. É realmente um trabalho em equipe.”, pontua Caroline.
“Aliás, fazer as coisas de casa é certo, o homem tem que fazer também, ficar o dia todo sem fazer nada é errado”, complementa Gustavo.
Hoje, Caroline divide sua rotina entre a confeitaria e seu emprego numa agência de marketing, no centro de São Paulo, enquanto Gustavo fica mais responsável pelas questões da casa e entrega currículos, pois está desempregado.
Técnico em mecatrônica, ele não descarta fazer uma plaquinha para ajudar a encontrar um emprego e já brinca com o slogan: “Compre uma trufa e me dê um emprego”.
Lucas Veloso é correspondente de Guaianases