No Grajaú, galeria de arte apresenta obras de artistas das periferias de São Paulo
Há 10 anos, o funileiro Gilmar Ribeiro, conhecido como Poeta Casulo, transforma peças velhas de automóveis em esculturas. Morador de Veleiros, na zona sul, ele já produziu 61 obras de arte com a ideia de chamar a atenção para o aumento da produção de lixo e mostrar a reciclagem.
Neste mês, ele realiza sua primeira exposição: Metal-Morfose. Casulo é um dos artistas que já apresentaram seu trabalho no Ateliê Daki.
Criado em 2014 por artistas locais do Grajaú, também na zona sul paulistana, o Ateliê já recebeu mais de 15 exposições de arte. O espaço surgiu como uma resistência artística para fortalecer a arte cultivada na região, mas se transformou numa galeria e expõe obras produzidas em diversas periferias de São Paulo.
De acordo com o Infocidade de 2015, base de dados da prefeitura de São Paulo, a capital possui 195 galerias de arte, sendo apenas 10 pertencentes à rede pública.
A maioria (59%) está localizada em distritos sob o domínio da prefeitura regional de Pinheiros, Alto de Pinheiros, Itaim Bibi, Jardim Paulista e o homônimo Pinheiros, na zona oeste. A segunda posição fica com a Sé, região central, que detém 21% das galerias.
“A gente sempre teve o pensamento que o Ateliê tinha que ser na quebrada. Isso está no papel de descentralizar a arte e manter esse espaço é uma resistência”, diz Ayco Dany, 24, um dos responsáveis pelo espaço. “Uns dois anos depois da abertura começamos a fazer exposições frequentes. É um processo de amadurecimento”, ressalta o artista visual Dimas Samid, 30, que também atua no espaço.
São os próprios artistas os responsáveis pelo financiamento da casa. Não é cobrada nenhuma taxa para expor, mas todas as obras ficam disponíveis para venda e parte da verba é revertida para a manutenção do lugar. “O público que consome arte aqui é diferente da Vila Madalena e temos obras mais em conta”, comenta Ayco Dany.
Um desafio do Ateliê é atrair a população periférica que não faz parte do círculo artístico. Dany conta que, apesar disso, o público local tem aumentado. Geralmente, as crianças são as primeiras a vir e trazem os pais depois. “Essa exposição tem gerado curiosidade e o público é misto”, comenta Ladislau Souza Santos Júnior, 32, pintor que também atua no Ateliê.
No início, sete artistas eram responsáveis pelo Daki e atualmente são quatro. “É bem dinâmico. Existe uma transição de artistas”, explica Ayco.
O ateliê também recebe saraus, bate-papos, workshops de arte e exibição de documentários. Além disso, as exposições abrangem diversas linguagens artísticas. A anterior, chamada “Os opostos de atraem”, reuniu cinco artistas que apresentaram grafite, muralismo, lambe lambe, videoarte e instalação, linguagem que estimula o público a interagir com a obra.
Um dos expositores foi Ladislau Souza Santos Júnior. O artista diz valorizar a beleza negra nos quadros e desenha uma joaninha em todos. “A joaninha significa prosperidade para mim”. Além de pintar, Júnior trabalha em um centro de acolhida para pessoas em situação de rua.
O Ateliê Daki abre das 8h às 21h de segunda a sexta-feira. Aos sábados e domingos abre a partir das 9h, mas aos domingos fecha às 13h. A exposição Metal-Morfose fica exposta até o começo de julho. Casulo também organiza um sarau e já tem livro de poesia publicado.
Endereço: Rua Rogério Fernandes, 20, Jardim Reimberg
Priscila Pacheco é correspondente do Grajaú
Lindo
Trabalhei próximo ao ateliê etive a oportunidade de conhecer pessoalmente, fiquei impressionada com tamanha beleza e sensibilidade. Parabéns