Moradores temem pelo futuro de projetos de economia solidária em Mauá
Um salário mensal de R$ 200 é a realidade de muitos catadores de materiais recicláveis em Mauá, na região do ABC Paulista, na Grande São Paulo.
“Até novembro do ano passado, arrecadávamos R$ 400 por mês, mas agora caiu, acho que é a crise”, conta a catadora Ana de Oliveira, 55, que trabalha na Coopercata em uma jornada de oito horas.
A situação de Ana, moradora do bairro Itapark, retrata a dificuldade de manter a cooperativa e é apenas um dos desafios da formação da chamada economia solidária na região.
No ABC, existem cerca de 100 empreendimentos solidários que vão desde cooperativas de catadores, costura, alimentação, até empresas recuperadas pelos trabalhadores a partir da falência.
No entanto, profissionais que atuam na área citam que as dificuldades têm aumentado para manter os negócios e que a legislação que visa o incentivo das ações não tem sido cumprida.
A Lei 4.918 18 de dezembro de 2013 prevê, entre outras coisas, a criação de uma incubadora pública de empreendimentos econômicos solidários – que já existe. Porém, o local não tem prestado assessoria técnica aos empreendimentos.
“A economia solidária rompe com a lógica do patrão e empregado, tudo isso se torna coletivo. Mas, precisamos de política pública para apoiar, pois hoje vivemos em estado de sobrevivência”, explica o cientista social e representante do Conselho de Economia Solidária em Mauá, Noé Cazetta, 59.
No caso dos catadores, as dificuldades têm feito com que alguns profissionais pensem em deixar o setor, caso do catador Ronaldo da Costa, 42, que atua no bairro Sônia Maria e também recebe R$ 200. Ele pensa em se tornar pedreiro.
“O retorno é muito pouco, se não fosse a minha família para ajudar a comprar as coisas, a situação seria difícil. É um serviço que precisa de reconhecimento”.
Na Coopercata, única cooperativa de materiais recicláveis de Mauá, o apoio da prefeitura vem somente dos caminhões e do espaço. A cooperativa já passou por diversos roubos e sobrevive com a inexistência de um plano de coleta na região.
“Temos que aumentar o número de coleta seletiva em residência, que hoje é de apenas 1%”, afirma Cleide Fiori, 58, assistente técnica da Coopcent, que representa sete grupos de cooperativas no ABC.
Mas, atualmente, quem vive desses empreendimentos enfrenta dificuldades para se estabelecer e a mudança de governo no começo do ano também contribuiu para agravar a situação. “Há abertura para o diálogo, mas eles afirmam não ter verba”, explica Noé Cazetta.
COSTURA
Desde dezembro de 2015 funciona o Centro Público de Economia Solidária no bairro Sônia Maria, em Mauá. No espaço, há coleta seletiva, cursos de corte e costura e venda de peças em tricô. Um dos exemplos é o grupo de mulheres do Retilindo, que produz peças de tricô para comercializar localmente, porém sofre com a ausência de apoio do poder público.
“Compramos o material por conta própria e recebemos o treinamento do que é economia solidária pelo Noé, o que expandiu nossa visão, já que não sabíamos como começar o negócio”, conta Bernadete Amaro, 53, dona de casa.
Um dos receios do grupo é a insegurança do espaço, que já sofreu assaltos. “Temos medo de chegar aqui e não encontrar nada”, desabafa a costureira Maria Pontes, 64.
Atualmente, também há um Plano Municipal de Economia Solidária de Mauá para o período de 2017 a 2020, que tem como objetivo fortalecer e guiar as atividades da EcoSol na região.
“No empreendimento solidário não há demissões, tudo o que é feito, é do coletivo. Você traz os princípios da solidariedade e da cooperação, além do cuidado com o meio ambiente”, afirma Noé Cazetta.
A Prefeitura de Mauá foi procurada, mas até a publicação da matéria, não se pronunciou sobre a situação da economia solidária na região.
Laiza Lopes é correspondente de Mauá
laizalopes.mural@gmail.com
Ótima matéria sobre a Economia Solidária de Mauá. Mas creio que ficaram outros empreendimentos a serem citados. Pois precisamos i máximo de informação para as repartições públicas e munícipes, a maioria desconhecem o quem a ser Economia solidária.
Bacana.