Coletivo cria Escola Popular de Iluminação de teatro no Campo Limpo
“O que é uma pedagogia da luz?”. Essa é a pergunta que nove jovens comunicadores de várias partes da Grande São Paulo buscam responder ao abrirem a EPI – Escola Popular de Iluminação, para despertar jovens para a profissão de iluminador nas artes cênicas, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
O coletivo C9 Iluminação, formado por Denis Kageyama, 27, Felipe Tchaça, 26, Gabriela Araujo, 28, Kenny Rogers, 27, Marcela Katzin, 37, Michelle Bezerra, 23, Natália Peixoto, 23, Rebeca Konopkinas, 26, e Ricardo Barbosa, 23, quer criar uma metodologia própria para compartilhar conhecimentos sobre a responsável por fazer o mundo visível: a luz.
Com formações e experiências na comunicação e no teatro, o grupo se cruzou no curso de iluminação em uma escola de artes cênicas.
“Tivemos certas dificuldades de acesso. Muitos de nós moram em lugares distantes do centro da cidade. Então a gente pensou em dividir esse conhecimento para pessoas que não tenham a oportunidade de ir até o centro da cidade, seja por questões financeiras ou de tempo”, conta Kenny, um dos idealizadores da EPI, morador de Taboão da Serra.
Além do curso de iniciação em iluminação cênica, que durará cerca de sete meses, também serão promovidos encontros com profissionais da iluminação, que são chamadas de “diálogos da luz”, e oficinas livres, de um dia, em outros espaços da cidade.
“A gente quer sempre se questionar, como coletivo e como profissionais, e pensarmos em coisas juntos e também, como a EPI estará na zona sul, queremos levar para outras áreas de São Paulo”, explica Kenny.
No ano passado, o C9 Iluminação teve um projeto aprovado pelo VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), programa da prefeitura que direciona verba a grupos culturais.
O projeto “Iluminação: o Que Você Vê Não É Apenas o Que Você Vê” partiu da questão de que a realidade enxergada, conforme entende-se a luz, pode ser modificada. “Nas nossas oficinas queremos mostrar que há mais do que a gente vê normalmente”, diz.
Foram cinco meses de aulas em espaços como a Casa de Cultura do Butantã e o Projeto Arrastão, que resultou na realização pelos aprendizes da iluminação em um espetáculo solo de um bailarino. Durante a formação, profissionais tanto do segmento quanto de outras áreas ligadas ao palco compartilharam experiências com a turma.
Fábio Retti é um dos principais iluminadores no cenário da ópera no Brasil e esteve presente em uma das aulas ano passado. “A gente não tem curso superior de luz, não é uma profissão estabelecida, então o grupo teve o privilégio de ter a formação e a generosidade de vir compartilhar”, afirma. “Iluminação é quase uma profissão secreta. Toda vez que é para preencher uma ficha, na área de profissão você coloca iluminador e sempre surge uma interrogação”.
Fábio diz acreditar que todo mundo encontra a iluminação por acidente. “Como se forma as pessoas? Muitos carregadores de empresas de luz no dia a dia aprenderam a mexer no refletor em uma mesa e acabaram virando iluminadores”, exemplifica.
Bianca Andreatti, 20, e Renata Santos, 20, são dançarinas e fizeram as oficinas ano passado. “O que é um espetáculo sem a luz?”, questiona Bianca. “O que mais me impressiona é o poder que a iluminação tem de mudar um cenário, de mudar um local, um espetáculo ou até mesmo um ambiente em casa”.
Atuando também em produção, Renata percebeu o quanto a luz transforma e afeta cada intérprete em um espetáculo. “Estou observando mais e de primeira é muita informação. Além de corpo, cenário, figurino, há a luz também no espetáculo e isso é muito interessante”, conta.
Na segunda-feira (21), a EPI foi lançada com uma mesa de debate entre os iluminadores Denilson Marques, Tomate Saraiva, Agnaldo Nicoleti e Fábio Retti e, a partir de setembro, jovens, acima de 16 anos, poderão se inscrever no curso de iniciação de iluminação cênica, que será realizado no Espaço CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes).
“A gente pensou em focar no público mais jovem para despertar, talvez, em alguns deles o interesse, não apenas pela iluminação, mas pelas artes do palco como um todo. A iluminação pode ser esse primeiro contato”, ressalta Kenny.
Karol Coelho é correspondente do Campo Limpo
karol.mural@gmail.com