Após fim dos cobradores, motoristas se arriscam ao exercer dupla função na Grande SP

Motorista de ônibus contando moedas enquanto dirige em avenidas movimentadas. A cena é perigosa e pode causar graves acidentes, mas em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ela se repete cotidianamente. Desde 2011, os coletivos da cidade operam sem cobrador, o que obriga os condutores a exercer uma dupla função.

“Com uma mão e com um olho eu dirijo, com a outra e mão e com outro olho eu cobro. Se o passageiro entrar sozinho, não posso parar o carro para cobrar dele, ou atraso a viagem”, conta um motorista da CS Brasil, que preferiu não se identificar. “Aumentou o trabalho, o estresse, a preocupação. Menos o salário”, desabafa.

Dentre as cidades da Grande São Paulo, Itaquá foi a pioneira em dispensar os cobradores. Porém, a prática vem se espalhando pelas demais.

Em Carapicuíba, o processo vem sendo inserido aos poucos, em linhas de menor circulação. Segundo funcionários da ETT, empresa concessionária do transporte naquele município, ele será expandido para todas as linhas em breve.

Já em Poá, é cada vez mais raro encontrar cobradores nos ônibus operados pela Radial, mesmo em horário de pico.

As concessionárias vêm apostando na adoção do sistema de bilhetagem eletrônica para reduzir a dupla função. Porém, como muitos municípios possuem sistema de bilhetagem próprio, não há incentivos para os usuários utilizarem os cartões municipais.

“Sinto que os motoristas mais velhos têm mais dificuldade de seguir nas duas funções ao mesmo tempo. Isso reflete em mau atendimento aos passageiros, principalmente aos idosos. Funcionaria se todos os passageiros usassem só o cartão”, detalhou Luiz Leite de Oliveira, 37, motorista em São Bernardo do Campo, cidade que adotou o cartão LEGAL, sem integração com os demais bilhetes da região metropolitana.

A desaprovação do fim dos cobradores é unânime também entre os passageiros. A técnica em secretariado Selma Aparecida de Souza, 54, moradora de São Bernardo, pensa que não houve beneficiados com a extinção da função.

“As empresas só visaram lucro e redução de custos, e acabaram prejudicando os passageiros e motoristas”, lamenta.

Procuradas pelo Mural, as operadoras de transporte não se pronunciaram até o fechamento desta matéria.

Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba e Poá
Jariza Rugiano é correspondente de São Bernardo do Campo
Vitoria Tavares é correspondente de Carapicuíba