Na música há 40 anos, saxofonista do metrô Carandiru economiza para gravar CD
Todo sábado, o músico Mauricio Rodrigues, 55, faz um trajeto de uma hora e meia para conquistar sua principal fonte de renda. Ele sai de sua casa em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, pega uma lotação e embarca no metrô até chegar na estação Carandiru, na zona norte.
É lá que ele se apresenta com seu saxofone, após uma carreira musical que já soma 40 anos. Com a mistura de vários gêneros, ele tenta quer gravar um CD e driblar as dificuldades de ser um músico autônomo, além de uma doença.
Mauricio tem hipermetropia, que afeta os olhos, e sofre também um pequeno tremor na vista. “De dia, eu enxergo mal pra caramba, e de noite, bem pra caramba. Quanto menos luz, melhor”, explica de forma bem humorada.
Entre idas e vindas na carreira artística, ele trabalhou como vendedor de pastéis, além de ter dado expediente em uma oficina mecânica por cerca de seis meses. “Mas vivo da música mesmo”, afirma.
Com uma renda mensal perto de R$ 2,2 mil, incluindo o ganho das apresentações do metrô e o pagamento por casamentos nos quais ele se apresenta durante a semana, ele quer gravar um CD. A produção é estimada em R$ 1.600.
Além do Carandiru, onde considera a “acústica boa” e as “pessoas receptivas”, ele também se apresenta nas estações de Vila Mariana e do Paraíso, na zona sul, e calcula receber R$ 150 em um único sábado.
GOSTO MUSICAL
Foi quando uma tia o levou para se apresentar em uma igreja que Maurício começou a se interessar pela música. “Foi mais ou menos com cinco anos. Eu sabia tocar só umas duas notas, mas nunca mais parei”.
A opção, entretanto, enfrentou resistência na família. Seu pai chegou a investir em negócios para o filho, como uma fábrica de blocos e uma marcenaria. Mas Maurício o convenceu a vender o maquinário para investir em instrumentos.
Com o dinheiro da venda, cerca de R$ 30 mil, comprou uma bateria profissional. “Eu falei para o meu pai, que ia desistir, não ganhava com aquilo, ganhava com a música”, diz.
No entanto, ele teve de largar o instrumento por causa de uma lesão por esforço repetitivo (LER). “É parecido com o que aconteceu com o maestro João Carlos Martins”, compara. Continuou se apresentando apenas com o saxofone.
Ele não se apresenta apenas no metrô. Faz eventos e participa de shows como acompanhante de outros músicos como convidado.
Na área artística, sua preferência é misturar diversos gêneros, sempre acompanhando com o saxofone. Ele admira principalmente o funk e o rap, ama o samba, que ele considera o “jazz brasileiro”, estilo que aprendeu a gostar por causa de sua mãe, uma “ouvinte assídua”.”Não Deixe o Samba morrer” é sua música favorita.
Sem ter trabalhado com carteira assinada e com 55 anos, o saxofonista tem pouca esperança em conseguir um emprego formal. Músico desde 1977, já teve uma aposentadoria negada.
“A carreira de músico é assim mesmo, eu nunca fui contratado. A contratação de músicos com carteira assinada é muito difícil, faz uns 20 anos que não ouço falar disso”, conclui.
Raphael Preto é correspondente na Vila Guilherme.
raphaelpreto.mural@gmail.com