Preço do aluguel e barulho afastam famílias de Paraisópolis
O amor da maranhense Edna Bastos, 39, por Paraisópolis não foi o bastante para que ela suportasse, dia e noite, o barulho da segunda favela mais populosa da capital paulista. O som alto do forró do estabelecimento ao lado de sua ex-casa foi a gota d’água. Há seis meses Edna deixou a comunidade.
“O som era sempre muito alto. Não deu para aguentar mais o barulho”, afirma a microempresária, que migrou para o Jardim Colombo, também pertencente ao distrito da Vila Andrade, onde está Paraisópolis.
“Lá, a gente paga R$ 800 de aluguel. Parece uma vila, é tudo silencioso”, festeja a maranhense, que é casada e mãe de uma menina.
A mudança de bairro, no entanto, não foi insólita. Coincidentemente, os novos vizinhos também eram ex-moradores da (quase) “Cidade do Paraíso”.
“Do lado de casa tinham duas famílias que também vieram de Paraisópolis”, diz. “Quando tem baile funk, a gente não consegue dormir. Toda vez que voltava de carro, nunca conseguíamos estacionar em casa, por causa da multidão”, completa Edna, que vivia em Paraisópolis havia 20 anos.
A separação não foi por completo. O cordão umbilical se mantém devido ao comércio que o casal mantém no antigo endereço. O estabelecimento, que fica em frente à União de Moradores e Comércio, comercializa toldos e banners personalizados.
“Não pagamos aluguel em Paraisópolis. O imóvel é nosso. Chegamos cedinho, às 7h, e voltamos para o Jardim Colombo no fim da tarde. Nossa filha também estuda aqui”, afirma, à contragosto. “Na verdade, amo Paraisópolis, não queria ter de sair.”
Sossego é a palavra usada por Manoel Alves da Silva, 38, para definir sua saída de Paraisópolis.
“Lá, eu não pagava aluguel. Saí porque eu morava numa casa pequena. Aqui tenho mais conforto, estou mais sossegado”, assegura o auxiliar de limpeza, que mudou-se há um ano para o Campo Limpo, também na zona sul.
A tranquilidade do novo bairro não foi o fator decisivo. “O preço do aluguel que eu pago aqui é a metade do que eu pagaria em Paraisópolis.”
Quem partilha da mesma realidade é o paraibano Josivaldo Pereira, 35, também ex-morador de Paraisópolis.
“Eu trabalhava aos fins de semana. Estava difícil suportar o barulho da rua”, diz o pedreiro, que sente saudade da facildade do acesso no antigo bairro.
“Era um lugar bom para viver, além da convivência com as pessoas. Tudo era mais perto, lojas, mercado”, diz.
Para Pereira, no entanto, o custo do aluguel de uma garagem para seu carro também pesou na hora de decidir em se mudar.
“Aluguei minha casa própria em Paraisópolis e com o valor pago aqui, que é até mais barato. São R$ 1.000, uma casa grande, com quartos enormes e garagem”, conta.
Emerson Moura, 32, presidente da União de Moradores de Paraisópolis, exemplifica alguns valores. “O aluguel de um cômodo custa de R$ 500 para cima em Paraisópolis”. Se a moradia for na rua, não numa viela, o preço é superior; ainda mais se estiver localizada numa via no centro da favela.
Já Joildo Santos, 31, diretor de comunicação do “Jornal Espaço do Povo”, discorda que a inflação no preço dos imóveis seja o principal motivo para a migração.
“Hoje tem tudo em Paraisópolis: quatro bancos, confecções de todo tipo. A debandada é mais por conta da qualidade de vida mesmo, do barulho dos bailes”, destaca.
“O morador quer poder descansar depois de ter trabalhado o dia inteiro. Também falta consciência por parte da população”, finaliza Moura.
Vagner de Alencar é correspondente de Paraisópolis
vagnerdealencar.mural@gmail.com
Oi Vagner, realmente triste essa situação de Paraisópolis. O bom mesmo seria uma boa linha de financiamento para auxiliar estas famílias a adquirirem casa própria, mas com altos juros e a baixa renda das famílias, fica mais complicado.
Abraços, Joílson Pereira.
Moro a 3 quarteirões da Paraisópolis , quinta , sexta, sábado e domingo é um inferno o barulho do baile. Pior é pela manhã nesses dias em que você sai para trabalhar com o risco de assalto, porque no final do baile sempre existem pessoas assaltando na região, eu já vi na minha frente, esses dias tentaram roubar um carro e ele tentou fugir, espancaram o rapaz, não mataram porque a polícia chegou. Se não tivesse os bailes funks seria infinitamente melhor, o baile aterroriza e perturba a região.