Repórter compara ônibus da COP na Alemanha a veículos das periferias de SP
“Nossa, aqui não tem cobradores”. Essa foi uma das primeiras coisas que pensei quando tomei o primeiro ônibus aqui em Bonn, na Alemanha.
Isso foi na sexta-feira (10), quando corria para obter o credenciamento de imprensa em um dos pavilhões onde são realizadas as principais atividades da COP 23, encontro de líderes e pesquisadores para debater as mudanças climáticas no planeta e buscar formas de atingir as metas criadas pelo Acordo de Paris.
Em São Paulo, morando em Guaianases, na zona leste, tenho que usar ônibus para me deslocar para os bairros mais próximos de casa e em outras vezes, para ir mais longe, como ao centro. Uma das linhas que mais uso é a 4310/10, que liga Itaquera ao terminal Parque Dom Pedro 2º, em viagens que variam de 40 a 55 minutos.
Em Bonn, não há cobradores. Quem fica responsável pelas informações, pela contagem de dinheiro e demais funções é o próprio motorista, auxiliado por três máquinas que ficam ao lado do volante. Ele organiza o troco, passa informações e tudo mais antes de retomar a viagem.
O trajeto da estação de Bonn até o parque Rheinaue, onde é realizada parte da programação, tem 15 minutos dentro de um veículo silencioso. Os ônibus usados durante a COP são elétricos e abastecidos com energia vindas de fontes renováveis, como a luz solar o vento.
Mais um detalhe: as ruas aqui são bem asfaltadas, o que reduz o choque das rodas com o asfalto, o que também ajuda para ter menos barulho.
Em São Paulo, quase toda a frota de ônibus é abastecida por diesel, que polui e tem barulhentos motores a explosão.
Interior do ônibus da COP em Bonn, na Alemanha (Lucas Veloso/Folhapress)
Em 2009, a lei municipal 14.933 definiu o que deveria ser a Política Municipal de Mudança do Clima na capital paulista. Nela está escrito que a cidade terá 100% de sua frota movida por combustíveis renováveis até 2018. Até agora, menos de 2% dos ônibus seguem essa norma.
O prazo para que a frota de veículos seja 100% movimentada por combustíveis limpos pode ser adiado pela Câmara dos Vereadores em até 20 anos, devido a um projeto que deve ser votado nesta semana, que prevê a redução de metade dos poluentes emitidos pelos veículos públicos até 2027 e que zerem suas emissões em 20 anos. O retorno da inspeção veicular também está prevista.
Para mostrar que os benefícios vão além da falta de barulho, o Greenpeace lançou em setembro um estudo onde aponta que 12,7 mil mortes serão evitadas até 2050, caso o município troque sua atual frota a diesel por ônibus elétricos.
Lucas Veloso, 22, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com
Bem exposto
Não falta tecnologia, a Elektra produz a várias décadas ônibus elétricos no ABC paulista, os trolebus. É só ter vontade política e abrir mão da corrupção que domina os sistemas de transporte público no Brasil, das usinas de asfalto às empresas de ônibus.
No Rio ontem prenderam o Barata, vulgo barão do busão, em São Paulo os escândalos no metrô já são parte do folclore. Enquanto isso andamos em veículos ultrapassados, poluentes e barulhentos, vergonhoso!