Dupla usa brechó para combater preconceito contra LGBTs negros
Artistas pretas, travestis e rappers, como MC Linn da Quebrada, Maldita Geni, MC Dellacroix, Alice Guél, Liniker, entre outras, inspiram o trabalho dos jovens empreendedores Luan Richard (a Luna Gurunga) e Carlos Moura (a Bixa Maloca), ambos com 21 anos, realizadores do “Brechó di Quebrada”, projeto itinerante de moda e estética pensado, especialmente, para o público negro, LGBT.
A dupla de Diadema, na Grande São Paulo, onde o brechó foi concebido, mudou-se para a Vila Silvia, zona leste da capital, tem muito o que fazer desde junho deste ano. Garimpam peças em brechós, customizam, montam looks, atuam como modelos, percorrem saraus, vernissages, exposições, fazem entregas, andam para lá e para de cá, de ônibus, metrô, com malas e araras cheias de roupas.
“Produzir um trabalho independente como o nosso é resistência, e a ideia é fomentar isso para a periferia, para que outras pessoas deem segmento, porque não temos apoio do governo, família e amigos. Somos vistos como caricaturas na sociedade”, diz Moura, que exemplifica o preconceito regional: “No centro eu sou endeusado, me chamam de Liniker e dentro de casa sou endemoniado. Até quando saio na rua, as pessoas me veem com diferença”.
Mas toda essa correria tem um sentido maior para os criadores. “Não é só montar a arara e colocar as roupas para vender, nós discutimos assuntos da nossa vivência e falamos de diversidade. Isso é gratificante”, diz Richard, que também é ator e modelo.
O primeiro ensaio fotográfico com os looks do brechó foi realizado com modelos LGBTs negros, que realizaram um trabalho voluntário na Casa Judith, próximo da estação São Bento, na região central de São Paulo. “Escolhemos artistas independentes de várias vertentes e outros que passam pelos mesmos problemas que nós, como homofobia, transfobia, e compartilham de vivências parecidas”, diz Moura.
Essa preocupação com a diversidade é também refletida nas roupas. “A maioria das peças é unissex, a roupa não tem gênero, é para quem quiser e se sentir melhor. Nosso trabalho tem um peso na sociedade, de mostrar a resistência”, relata Richard, quando perguntam se o traje é masculino ou feminino. Um pensamento que também acompanha a forma como se identificam: bichas não binárias.
“Quando falamos que somos bichas não binárias é como identificamos nossa identidade de gênero, nem homem, nem mulher. E isso faz parte da nossa estética, a gente é quem a gente quiser, quando quiser e se quiser”, afirma.
Os trabalhos são divulgados principalmente pelas redes sociais da dupla, no Facebook e no Instagram. Também pensam em futuramente criar um blog para escrever sobre a realidade dos LGBTs, com o objetivo de ajudar outros jovens das periferias e incentivar o empreendedorismo.
O projeto da dupla pode ser conferido em dois eventos próximos. O primeiro será uma exposição no Projeto Criar, no próximo dia 29, na rua Solon, 1121, Bom Retiro, região central. Depois, no dia 3 de dezembro, eles participarão do primeiro Slam Queer LGBT, na Praça do Jaçanã, na zona norte da capital.
Cleber Arruda é correspondente da Brasilândia
cleber.mural@gmail.com
Katia Flora é correspondente de São Bernardo do Campo
katiaflora.mural@gmail.com
Parabéns pela matéria!
Muito boa esta matéria o blogfolha está de Parabéns pela iniciativa em abordar estes temas que não costumam ser discutidos pela nossa sociedade , e os relatos dos entrevistados é de suma importância para entendermos um pouco a respeito de Gênero e respeitar as diversidades