Músico Rodrigo ‘Pirituba’ cria samba para falar da vida no bairro
Além de ter passado 36 dos seus 41 anos vividos no Jardim Líbano, em Pirituba, na zona noroeste da capital, Rodrigo Ferreira Coelho carrega o bairro em sua identidade artística. Mais conhecido como Rodrigo Pirituba, o novo batismo aconteceu ainda na adolescência quando ele começou a praticar capoeira.
“Quando eu cheguei para treinar, o mestre me perguntou: ‘Como é o seu nome?’. Rodrigo. De onde você é? Pirituba. Aí ele me disse que a partir daquele momento eu estava rebatizado. Depois, isso se espalhou e eu perdi o controle”, afirma o percussionista.
Rodrigo não mora em Pirituba há cinco anos. Ele saiu do bairro quando conheceu a esposa Anita, com quem mora junto com filho de três anos. Mas resolveu musicar sua relação com o bairro na música “Jeito Pirituba de ser“, composta em parceria com o músico carioca Juliano Juba. O dia a dia dos piritubanos se apresenta em cada verso.
“Pegando o trem, fone de ouvido
Barra Funda descer
Jeito Pirituba de ser
Prato do dia correria,
Você vai me entender,
Jeito Pirituba de ser
De chinelo, de bermuda
Me apresento a você
É o jeito Pirituba de ser
Bem a vontade, aqui na laje
Futebol ‘pa nóis’ vê
Jeito Pirituba de ser”
A letra, garante, quer reforçar o swing, a alegria e a força próprios de quem são do bairro.
Tudo bem para quem tem ótimas lembranças do lugar em que foi criado. Rodrigo Pirituba cresceu em uma casa movimentada ao lado da mãe, pai, tia e dois irmãos. E afirma ter vivido os “clássicos da periferia”.
“Eu joguei bola, brinquei perto da linha do trem, empinei pipa, joguei pião, soltei balão, saí na mão, peguei muita fruta do pé”, conta.
Essa época também diz muito sobre sua base musical. Parte do conhecimento vem da própria família. “Na casa que eu morei era muito comum ouvir Agepê, Secos e Molhados, Elis Regina”, relembra.
Os instrumentos eram igualmente presentes, “desde moleque”, afirma. “Apesar dos poucos recursos, minha família sempre priorizou a cultura”, se orgulha. O berimbau ganhou do pai e “o atabaque, o pandeiro e o tantã vieram do misto da umbanda, do candomblé e do samba do gueto”, conta.
Rodrigo Pirituba teve que quebrar alguns estigmas desde muito cedo. Aos 14, conseguiu o primeiro trabalho de office boy no centro de São Paulo, e ingressou na conhecida rotina de sair da periferia para trabalhar e retornar a ela para dar continuidade aos estudos, à noite. “Foi quando comecei a me conectar com outras realidades”.
A primeira missão foi explicar às pessoas onde morava. “Eu tinha que dizer que era perto da Lapa, ninguém sabia onde era Pirituba nessa época. Tinha gente que até achava ser outra cidade”, lembra.
Aos 15, conseguiu uma vaga de emprego na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde ainda desenvolveu o ofício de office boy por mais oito anos. Lá, conheceu a elite.
“Embora não fosse meu lugar de raiz, aprendi que era meu direito circular por ali. O suburbano tem menos opção do ponto de vista de acesso, mas raça em dobro. Para chegar nos lugares é preciso ter a cabeça erguida e honra.”
Paralelo ao trabalho, Rodrigo Pirituba seguiu estudando e tocando para achar sua identidade musical, até que, aos 23 anos, se encontrou definitivamente com a música. Entrou como percussionista na Banda Farufyno, conhecida por tocar samba-rock nas noites paulistanas, e lá segue há 14 anos.
Além disso, acumula passagens na Banda Black Rio e em rodas de samba em São Paulo, como a que dividiu por três anos ao lado do falecido sambista João Borba, no Ó do Borogodó, tradicional bar de samba localizado na Vila Madalena, zona oeste da cidade.
“Eu não atravessei o rio pra perder. Nós, da periferia, saímos um pouco atrás, com a chuteira zoada, com a infra menor…Mas dá pra chegar onde se quer”, garante.
Ana Luiza Basilio é correspondente de Pirituba
anabasilio.mural@gmail.com
Parabéns!
Pirituba, precisamos quebrar esse paradigma e mostrar que a periferia tem vários talentos invisíveis.
Só precisamos ter uma oportunidade.
Sucesso.