Cobrador escreve livros inspirados nos passageiros de Guaianases
Tudo que o cobrador Anásio Silva, 51, vê nos ônibus em que trabalha na zona leste, ele tenta transferir para o papel. São alegrias, tristezas, e a rotina dos passageiros que viraram objeto de livros que o autor busca publicar.
Baiano, ele veio para São Paulo com 19 anos para morar em Guaianases, na zona leste, com esperança de uma vida melhor e de crescimento pessoal. No bairro, ele foi contratado como cobrador, se casou e teve dois filhos.
Inicialmente, Anásio trabalhou na linha Patriarca/Guaianases (2756-10) e agora atua na Jardim Robru (273R-10). Ao total são 23 anos na profissão. Foi nesse ambiente, de muita gente, trânsito e correria, que ele se descobriu escritor.
“Tudo que escrevi, escrevi no ônibus. Fora eu não consigo, a mulher e os filhos não deixam”, diz Silva.
Ele conta que um motorista o via escrevendo e pediu, no fim da viagem, que ele lesse o trecho da história. “Eu ia ler, no fim da noite, o pedaço que escrevi e os passageiros queriam ficar na frente só para ouvir. Esperavam no dia seguinte o nosso ônibus para saber a continuação da história, alguns que até davam palpites”, conta o escritor.
Anásio afirma que a inspiração para os textos vem das coisas que vê no ônibus, dos acontecimentos políticos e das situações de desigualdades. “Eu sou muito emotivo, acho até que são pesados alguns textos. Infelizmente é a realidade. O que escrevo é muito dedo na ferida”, diz o cobrador.
Outros textos brotam da criatividade, como um fiscal que buscava pretextos para levar animais a um pet shop, para encontrar a dona do comércio, por quem estava apaixonado.
Este e outros contos estão nos livros “Do outro lado corre” e “Memórias de cobrador”, que não foram publicadas por falta de recursos financeiros.
No ano passado, ele lançou “Cena Urbana”. A obra esgotou os exemplares, publicados graças ao financiamento do próprio autor. Antes ele já tinha feito o pocket livro “Vim de Longe”, lançado no sarau da Maloca em 2010.
O cobrador também retrata cenas que observa nas pessoas, indo e voltando de tantos destinos no transporte público.
“Deixo para as pessoas uma mensagem de superação para cada dia, passamos por cada coisa e precisamos sair vivos e buscar o sonho da gente”, diz Anásio. “Eu tento buscar o meu.”
Sheyla Melo é correspondente de Guaianases
sheylamelo.mural@gmail.com
Uma das belas poesias do Anásio:
Relato de dores
O povo vive como loucos.
Entranhado na pele a dor
Que o consomem, entre o aceitar,
Reclamando,
Gritando ao mundo;
Fingindo
Com suas maquinas de choro
Com suas válvulas,
Borrifando lagrimas.
A alma sangrando vento,
As veias feitas de rios
Subterrâneos,
Onde emana vida
Morte, tentáculos e
Relatos de dores
De mortes.
O fogo queima os pelos
Onde a pele abortou o gelo
O amor e a dor aberta feito flor
Abelhas e besouros voando
Entre procurar lembranças
De nuvens e amores.
deveria recorrer a financiamento coletivo, ir a saraus etc.
Exemplo de superação para quem não desiste do seu sonho.
Esse e exemplo de Vida e da sociedade
Esse é o nosso Brasil, e este é o verdadeiro Brasileiro, orgulho tenho do nosso povo.
Que bacana! Essa linha passa na casa da minha mãe! Vou ficar de olho pra ver se o vejo!
Valeu deise