DJs montam baladas grátis em praças de Pirituba
Susy Seven, 45, era ainda criança quando frequentava a região de Pirituba para visitar a avó, moradora do bairro. Cresceu entre o basquete e o teatro mas, em 1999, descobriu que seu lugar era com os discos e as picapes. Hoje DJ e produtora, ela toca principalmente em casas do centro de São Paulo, mas a vontade de ver seu som cruzar a ponte a trouxe de volta ao bairro de infância.
Foi em 2015 e depois de retornar de Barcelona, onde trabalhou por cinco anos, que se juntou a DJ Vandecko, 37, e DJ Jorge F, 36, também de Pirituba, para criar o Peritrônica – Música Sem Fronteiras.
“O hip hop e o rap estão atravessando as fronteiras e indo para um pessoal mais ‘granfinado’, mas a música eletrônica não está entrando facilmente do outro lado, para o pessoal da periferia. E isso é uma coisa que me incomoda. A ideia [do Peritrônica] é essa, porque isso só muda quando você começa a tocar”, nota Susy.
Não importa se é dia ou noite. Eles tocam todos os meses em praças, parques e bares principalmente da região de Pirituba. A primeira edição do projeto foi na praça Monsenhor Escrivá, na Vila Iório. A última, em dezembro do ano passado, foi no Boteco da Villa, na Vila Zatt. “Se apresentar em equipamentos públicos é mais gostoso. Não tem aquele compromisso de bombar o lugar”, explica a DJ.
Além dos residentes, as apresentações costumam receber artistas convidados. Foi em um deles que DJ UnderGui, 34, do Butantã, também se somou ao projeto e completou a formação atual.
“Não somos precursores desta história. Em Pirituba a gente fazia isso em 2000, mas ficamos quase 15 anos sem tocar. A gente não está inventando a roda. Só estamos fazendo ela girar aqui”, explica Vanderlei Egídio, o DJ Vandecko. Ainda no final da adolescência, ele conta que já promovia a música eletrônica no bairro.
“A princípio, só falam que isso é ‘música de boy’”, comenta Vanderlei, mas garante que o público vai se interessando à medida que tem acesso a estas referências. Ele lembra que os beats eletrônicos são a base dos raps, por exemplo. Mesmo quando se apresentaram em lugares de passagem como na estação Jaraguá da CPTM e no Terminal Pirituba, os passageiros paravam para ouvi-los.
Movimento de Cultura
Em 2016, Susy e Vanderlei conquistaram o espaço Brito Broca, ao lado da biblioteca municipal de mesmo nome, onde dão oficinas e promovem eventos, por meio da articulação com o Movimento de Cultura de Pirituba e Jaraguá (MOCUPIJA).
“A gente não tem muitos equipamentos públicos culturais na região, e nunca teve. Tem essa biblioteca, e eu lembro que vinha para cá fazer trabalho de escola. Na adolescência, já ia para o Tendal da Lapa. Se for ver bem, minha infância e adolescência não tiveram contato com produtos culturais orgânicos”, reflete o DJ, que cresceu na região da Vila Zatt, a cinco quilômetros da biblioteca Brito Broca, inaugurada em 1965.
O Peritrônica sobrevive ainda sem apoio financeiro. Como define Vanderlei, “é tudo feito na unha”, mas o grupo pretende conquistar novas fronteiras e buscar financiamento. E Susy garante: “O que a gente não tem é dinheiro, mas ideias e vontade de fazer temos de sobra”.
Lara Deus é correspondente de Pirituba
laradeus.mural@gmail.com
Pirituba minha região trabalho cultural incrível da Susy já pude presenciar e bacana demais importante salientar que nossa região mesmo sendo bem estruturada e escassa de aparelhos culturais. Ótima matéria.