Sem saneamento, moradores utilizam água contaminada em Marsilac
O pedreiro Silvio Rosa Sampaio, 42, já está acostumado a levar a filha ao médico e receber sempre a mesma receita: remédios vermífugos. “Falam que de seis em seis meses tem que tomar remédio pra verme, mas essa criança toma muito mais. De dois, três meses, tem que dar remédio pra ela”, conta o pai de Ana Linda, 7.
Silvio é morador do Jardim Emburá, bairro que fica no distrito do Marsilac, no extremo sul de São Paulo. Como a região não possui rede de saneamento básico, os moradores utilizam poços artesianos e uma mina como fonte de abastecimento de água – além conviverem com esgoto a céu aberto e terem fossas instaladas nas casas.
Uma análise feita pelo Laboratório de Controle de Qualidade em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, mostrou, no entanto, que a água coletada na mina do bairro é imprópria para consumo.
A pesquisa foi recomendada depois que um surto de diarreia acometeu os moradores da região. O resultado da análise mostrou que a água apresenta níveis de Nitrato, Amônia, e bactérias, como a ‘Escherichia coli’, em quantidade acima do recomendado pelo Ministério da Saúde.
Riscos à saúde
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, no território abrangido pela UBS Jardim Emburá ocorreram 60 casos de diarreia, vômitos e vermes em apenas três meses no final do ano passado.
Mariano Ferreira de Queiroz, 63, é conselheiro gestor da UBS Jd. Emburá e acredita que a água é a resposta para o alto índice de casos. “Cada casa tem uma fossa e cada fossa contamina um lado da água”, conta o morador.
Professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e especialista em microbiologia, a pesquisadora Maria Tereza Pepe Razzolini explica que a presença da bactéria Escherichia coli é um forte indicador de que a água está contaminada pelo esgoto: “O grupo coliforme é um grupo de bactérias que indica contaminação fecal, e a Escherichia coli é a principal delas”.
Segundo Razzolini, uma vez que se detecta a presença desta bactéria, a probabilidade de outros organismos patogênicos estarem na água é ainda maior. A alta presença de Nitrato também pode apresentar risco à saúde dos moradores. “O grande problema é que no estômago o nitrato pode ser convertido em nitrito”, conta o professor da Unifesp – Campus Diadema, Fábio Kummrow.
Pesquisador na área de Toxicologia, ele explica que quando convertida em nitrito pelo corpo humano, a substância pode prejudicar a oxigenação dos tecidos e causar doenças como a chamada ‘Síndrome do Bebê Azul’.
Recém-nascidos com até seis meses são os mais sensíveis ao nitrito, mas o professor explica que o composto também pode apresentar risco de câncer no aparelho digestivo de adultos. “O consumo [da água] em curtos períodos não implica em efeitos à saúde. Porém, sem dúvida existe um risco em potencial para a população”, sintetiza.
Cadê a água?
Eleno Marques Bezerra, dono de um bar e morador da região há 20 anos, luta para que a água encanada chegue à sua torneira há pelo menos 10. “A Sabesp já veio aqui, condenou essa água, disse que não presta nem pra lavar chão. Mas não tem outra. Fazer o que, né?”.
A Sabesp, que é responsável tanto pelo abastecimento hídrico como pelo saneamento, afirma que, legalmente, está impedida de implantar estas infraestruturas, já que a região faz parte de uma Área de Proteção e Recuperação de Mananciais – APRM. A Prefeitura Regional de Parelheiros, que cuida da região, endossou as afirmações da companhia.
Apesar da resposta, o Plano Diretor Estratégico da cidade, aprovado em 2014 pela Prefeitura de São Paulo, prevê Sistemas Isolados de Água e Saneamento para a região do Jardim Emburá. Quando questionada sobre o projeto, a Sabesp afirmou que não há nenhuma obra prevista, e ressaltou que está condicionada às autorizações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) para atuar na região.
Em nota, a CETESB afirma que “a instalação de esgotamento sanitário e de sistema de abastecimento de água encanada em Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais – APRM não é proibida”. Segundo a companhia, as obras dependem de licenças que devem ser solicitadas pela SABESP através do Portal de Licenciamento Ambiental da CETESB.
A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que os casos de diarreia, vômito e vermes podem ou não estar relacionados à situação da água e que monitora mensalmente poços, minas e bicas através da Coordenação de Vigilância em Saúde.
Confira o vídeo da reportagem:
Jéssica Bernardo é correspondente do Grajaú.
Lara Deus é correspondente de Pirituba.
Aguá fonte de vida mais uma vez, o cidadão se torna refém das autoridades publicas no jogo de empurra . A luta continua. Parabéns a correspondente pela matéria.
A resposta é simples ( 1: fossas de evapotranspiração ou as biogestoras …já existe algumas delas no bairro de Eng marcilac. Elas não deixam contaminar o lençol freático . Depois procurar dona Maria Lúcia Cirillo em marcilac ela tem um processo que já está a anos no ministério público.