Artistas defendem união dos saraus em encontro na zona leste

Agência Mural

A cidade esteve em festa. Às 14h, enquanto Paula Fernandes se apresentava no Vale do Anhangabaú, na quinta-feira (25), entre outros atos no centro da capital pelo aniversário de 464 anos, o poeta Germano Gonçalves, 64, abria os trabalhos do 1º Encontro de Saraus da Zona Leste.

“Nós estamos na resistência”, afirma Germano. “Dia 25 de janeiro será histórico para os saraus da ZL, lembrado como momento de construção da nossa cultura como periferia”.

Com a presença de dez coletivos, o ato no Centro de Cultura São Rafael serviu para buscar unir os diversos grupos em ações pela região.

“Estamos na busca de germinar algo maior. Uma rede, uma cooperativa, algo que una os saraus para que possamos atuar juntos e se fortalecer. Precisamos começar com quem está perto.” diz o bibliotecário Carlos Otelac, 36, um dos idealizadores do encontro.

A importância de fazer um ato no dia do aniversário da capital também na zona leste não foi por acaso. “Hoje rola muita coisa, mas tudo concentrado no centro. Há eventos nas periferias também, mas e depois? Como fica a situação desses coletivos ao longo do ano?”, explica o educador Danylo Paulo.

Participaram grupos de várias regiões como o Movimento Ocuparte (Parque do Carmo), Sarau da Resistência Preta (Cidade Tiradentes), Sarau do Seu Camilo (São Mateus), FemiSistahs (Itaquera), Sarau do Vale (Iguatemi), Sarau do Urbanista Concreto (São Rafael), Sarau Feminilitudes (Itaquera/ Cid. Tiradentes), Sarau Poesia Pulsa (São Mateus), e Sarau Tem Coragem (Itaquera).

Apesar do ato no dia do aniversário da capital, a celebração não foi a pauta principal do encontro. “Eu não comemoro o aniversário de São Paulo. Minha cidade é São Mateus e meu bairro é o São Rafael”, afirma Miguel Arcanjo, 68, aposentado e morador há 50 anos do bairro.

Ele viu o cartaz na rua e decidiu participar. “Trouxe minha neta de sete anos. É importante para ela conhecer as coisas. Saber o que é uma dança, uma poesia. Para quando ela crescer saber o que é liberdade.”

Miguel e sua neta não eram os únicos. Cerca de 100 pessoas assistiram as declamações de poesia, shows, contação de histórias, pintura facial e brincadeiras.

OUTRA ANIVERSARIANTE

Em meio as atividades foi cantado um “parabéns pra você”, mas não para São Paulo. Era aniversário de 32 anos da grafiteira Patrícia Riska.

“Eu já não costumo comemorar o aniversário de São Paulo. Como é o meu também dou esse dia de folga pra mim e não faço nada. Só dessa vez que vim participar do evento e agregar com as artes que faço junto com minha amiga Tihna Curtis que produz fanzine”, conta.

Além de Patrícia, o dia 25 de janeiro também é importante para Mateus Muradas, 27, contador financeiro e poeta. “É um feriado, mas não é uma data que faz sentido pra mim. É o aniversário de três anos da Ocuparte também. Pois fora isso não me representa”, diz.

“Eu amo São Paulo porque ela é feita de pessoas, mas o aniversário representa uma estrutura de poder. Os paulistanos das periferias não têm nada a ver com essa ideia de locomotiva do país”.

Entre os poetas, a estudante universitária Midria da Silva Pereira, 18, reverbera o que o 1º Encontro de saraus da ZL deseja de presente pelos 464 da capital paulista.

São Paulo é aquariana
E todo dia 25 de janeiro eu lhe amo um pouco mais
Mais eu peço, eu imploro
Pra que a relação do povo com essa cidade mude, se remolde e deixe de cair na mesmice do molde de…
Trabalho no centro, não vivo o centro, moro na periferia, durmo na periferia, não vivo a periferia, não vivo
Revolucionária em toda medida como uma boa aquariana
Eu peço à essa cidade
Eu quero que o meu bairro não seja mais um bairro-dormitório!
Eu quero que ali tenha vida
Seja noite, seja dia
Porque eu quero viver São Paulo
Eu quero dar a nossa cara à ela
E se for necessário a gente dá a cara a tapa
Pra que essa cidade seja sempre mais nossa
E menos deles

Matheus de Souza é correspondente de São Matheus
matheusdesousa.mural@gmail.com