Arena grega fica esquecida em centro de cidadania na Jova Rural
Aline Kátia Melo
Criado em 2001, o CIC (Centro de Integração à Cidadania) Norte, na Jova Rural, bairro da zona norte de São Paulo, tem uma arena grega sem uso. Localizado em uma área descoberta e acessível apenas por escadas, a área perdeu espaço em meio a outros espaços culturais do bairro.
O CIC faz parte de um programa ligado à Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania do estado de São Paulo.
Denise Conceição Silva Avarese, 50, diretora técnica do CIC Norte, atribui o esquecimento da arena ao surgimento de outros espaços cobertos, com cadeiras, com mais estrutura para apresentações culturais.
“Estamos localizados entre um CEU [Centro Educacional Unificado] e uma Fábrica de Cultura. Toda reunião que participo digo que o espaço é de vocês, não é do governo. É só conversar, falar dia e horário, a gente ajuda a divulgar”, diz.
“O CIC é aberto a qualquer projeto, a gente interage muito com a comunidade”, ressalta.
Com serviços como a emissão de certidão de nascimento e RG, o local foi apelidado pelos moradores como um mini Poupatempo.
Um dos monitores da oficina de música, Wellington Palmieri Donizete, 21, estudante do quinto semestre de psicologia, pensou em usar a arena no sarau realizado em dezembro. O próximo evento será realizado no mês de maio.
“Essa arena eu queria muito fazer um sarau. Tentei colocar todo mundo para fazer e tal, só que aí o pessoal ficou em dúvida de fazer porque era espaço aberto, época de chuva, não choveu, mas fizemos na sala coberta”, explica.
FILHO DE PEIXE
Donizete é um jovem morador da Jova Rural que frequenta o CIC desde a adolescência, quando estudava em um colégio próximo. “Vinha e passava aqui a tarde toda. Nas férias, vinha desde a hora que abria”.
Ao frequentar o espaço Donizete pensava em retribuir o que fizeram por ele. “Eu tinha um sonho de trabalhar, fazer algum serviço voluntário, algo social. Ficar aqui no bairro onde eu cresci, ajudando o pessoal aqui”, comenta.
O CIC fez e faz parte de muitos momentos da vida de Donizete. Com 12 anos, ele tirou seu primeiro RG. Aos 15, frequentava o local todos os dias.
“Antes o pessoal vinha aqui procurar emprego. Eu mesmo consegui meu primeiro serviço registrado, anos atrás. Comecei a fazer minha prática de psicologia aqui. Já ensinei inglês para crianças também”, diz, enquanto mostra as salas do espaço.
Ao lado dos amigos Bruno Ataíde, Felipe Oliveira e Thiago Araújo, Donizete também deu vida a um projeto de aulas de música por meio do Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) da Prefeitura de São Paulo.
O jovem aprendeu a tocar violão no CIC e montou a banda “De um jeito Casual”. “Antes do projeto a gente já ensinava a galera. Teve uma época que a gente tocava aqui toda quarta-feira à noite. A gente ensinava violão e não tinha nenhum projeto, por dois anos”.
O grupo pretende renovar o VAI este ano e depois tentar outros fomentos.
CURSOS
As aulas começaram em agosto de 2017. Aos sábados são oferecidos cursos de percussão, guitarra e canto. E às quintas e sextas-feiras, manhã e tarde, são realizadas aulas de violão.
Nos dias de semana, é possível encontrar mais idosos do que jovens.
“Nossa, mil maravilhas, você não sabe onde eu ia, um sacrifício, um sufoco pegar ônibus e metrô para ir ao Anhangabaú de graça para alunos da terceira idade, eram 70 estudantes. Aqui parece particular, mais próximo da gente”, diz a aposentada Josefa Maria Olívio da Silva, 66.
Ela conta que só agora, na terceira idade, depois de casar três filhos teve oportunidade de aprender a tocar violão. “Quando criança eu tinha vontade, mas não podia. Casei, fui criar filhos, fui trabalhar. Parei com 60 anos”, comenta.
“Não sei se a vida imita a arte, se a arte imita a vida. Não sei quem imita quem nessa frenética corrida. Só sei que viver com arte, a vida é menos sofrida”, recitou a aposentada, que também é cordelista e se apresenta pelo nome artístico de Zezinha.
Aline Kátia Melo é correspondente da Jova Rural
alinekatia.mural@gmail.com
Um espaço magnífico um verdadeiro teatro de arena semi- circular tão raro tão quanto utilizado espaços culturais ainda são escassos nas áreas mais afastadas do centro urbano temos que valorizar o que já temos.Parabenizo a correspondente pela matéria.
É verdade André temos que valorizar o que já temos. Obrigada pelo contato!