Documentário ‘Rua Comprida’ retrata vida de moradores da Vila Mazzei
Priscila Gomes
De tanto ouvir histórias de seus vizinhos, o jornalista Vinícius Bopprê, 25, pensou na adolescência em criar um jornal sobre sua rua na Vila Mazzei, na região do Tucuruvi, zona norte de São Paulo.
O projeto não deu muito certo, mas serviu como inspiração para uma série de vídeos chamado “Rua Comprida”, que busca contar a história da via por meio da vida dos moradores.
“Sempre gostei de ouvir histórias, cresci ouvindo várias aqui na rua Comprida”, afirma. “De um tempo pra cá, esse meu desejo de falar sobre as pessoas vem se concretizando depois que comecei a fazer trabalhos na área de documentários”.
Até aqui foram sete relatos de 5 a 12 minutos. Nos perfis, se concentram algumas histórias engraçadas. Outras emocionantes.
Bopprê conta que, a princípio, a ideia era iniciar um projeto de pesquisa de documentário que envolvesse jornalistas para conhecer as pessoas e suas histórias para futuramente participar de algum festival de curtas ou médias metragens.
“Por falta de dinheiro e equipe, resolvi transformar em uma série de documentários para apresentar para o público aos poucos os personagens. Dessa forma podemos criar já um vínculo com os moradores que é nosso principal objetivo”, completa.
PRIMEIROS RELATOS
A primeira gravação foi com Mara Lopes que mora na rua Comprida desde que nasceu, há 63 anos. No vídeo ela conta um pouco de sua infância e como era a rua nesse período. Foi a primeira vez em que teve um espaço para contar sua história.
“A gravação foi um marco na minha vida, porque pude desabafar sobre tudo que tava sentindo”, relembra. “Foi tão libertador que passei mal alguns dias depois, fiquei internada, tudo por causa do cigarro. Larguei esse vício desde então. Sou outra pessoa”, afirma.
A dona de casa Márcia Aoun, 48, há três anos enfrentou um tratamento contra o câncer de mama. Na série, ela aborda como conheceu o marido, fala da família, da doença e os dias atuais.
“Não tenho nada a esconder e meu relato serve de incentivo para pessoas que acham que um “probleminha” é o fim do mundo. As pessoas me reconhecem na rua e me dão parabéns pela força. Me senti confiante e segura para contar o que passei”, conta.
A história do frequentador de bailes da terceira idade e apaixonado por bicicletas também foi retratada nos vídeos. “Pude relembrar meu tempo de moleque, das corridas do meu pai, como eu me divertia com as bicicletas aqui na rua”, conta o autônomo Ronald Jantke, 58.
“Ter desabafado e ter tido um espaço para contar o que vivi foi maravilhoso. Me emocionei porque pela primeira vez pude mostrar quem eu sou em um vídeo. Chorei e ri”, diz a dona de casa Shirley da Conceição, 53, moradora da rua Comprida há mais de 50 anos e que retratou na série sobre seus relacionamentos amorosos e sua fé.
Para Bopprê, todos têm uma história interessante para contar . “Todo mundo tem algo bom para relembrar, tudo tem sua importância e merece ser triada da gaveta”, diz. Ele montou um canal no Youtube e afirma que a série é o ponto de partida.
“Quero contar a história da rua por meio da vida das pessoas, pois não tem como contar sobre um lugar e esquecer moradores”, conclui.
Priscila Gomes é correspondente da Vila Zilda, na zona norte de São Paulo
priscilagomes.mural@gmail.com