Após atrasos, fábrica de cultura em Diadema tem previsão de entrega para abril

Katia Flora

Tapumes pichados, porta de madeira improvisada no estacionamento, janelas sem vidro, entulho, sujeira e mato alto na calçada. Assim está a estrutura do prédio localizado na Avenida Fábio Ramos Esquível, no centro de Diadema, onde será inaugurada a primeira Fábrica de Cultura fora da capital, no ABC Paulista.

A obra financiada pelo governo do Estado de São Paulo teve início em junho de 2014 e estava prevista para ser entregue no mês de junho de 2017, mas falta o acabamento  como pisos, pintura e equipamentos. Agora, a administração prevê a entrega para primeira semana de abril.

Com custo de R$ 14 milhões, a construção ficou parada por  um ano e oito meses. A Fábrica de Cultura terá um espaço de 4.500 metros quadrados divididos em dois blocos, salas de aula, ateliês, administração, biblioteca, salas de multiuso e teatro. O objetivo é levar oficinas culturais de diversas atividades como teatro, circo, danças, artes, multimídias para crianças e jovens do município.

No entanto, além do atraso, movimentos sociais e culturais do município questionam o formato.  

“O poder público tem que dar o que é direito para a população, os processos seletivos são excludentes e as pessoas que entram não sabem o trabalho da cidade ou nem residem. E para um jovem da periferia entrar é bem burocrático. A instituição é elitizada e não beneficia o pobre”, afirma a educadora social Thais Rosa Oadq, 32, que coordena o coletivo Dia de Nega.

Eles alegam que o município conta com  centros culturais e Casa do Hip Hop, que eram referências em atividades culturais e oficinas, que estão esquecidos e nem recebem verba da prefeitura.

A instituição funcionará de terça a domingos e feriados, não abre de segunda-feira. O coletivo Dia de Nega foi criado no dia 25 de julho de 2014, em homenagem a mulher negra caribenha, no Centro  Clara Nunes. O grupo é formado por nove mulheres que tem objetivo de tratar a mulher negra da periferia e saraus.

Para Shirley Franklin Maia, 40, integrante do coletivo, é necessário olhar para a cidade para saber qual é a real demanda. “Teremos pouco espaço pra  expor nossos trabalhos e sem contar a falta de produção cultural dos artistas que realizam projetos com as crianças”.

O poeta e compositor Carlos André 33, morador de Diadema, apoia os movimentos artísticos e considera que a atual gestão deveria priorizar os projetos já existentes no município como os centros culturais.

“A fábrica de cultura é localizada no centro e como um jovem da periferia, vai fazer para participar das oficinas, como será o custeio do transporte público”?

Estrutura ainda está com janelas sem vidro com nova previsão para o final do mês (Katia Flora/ Agência Mural/Folhapress)

Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, informou que as obras  passaram por uma reprogramação orçamentária, o que levou ao atraso. A pasta nega que a Casa não atenderá moradores dos bairros mais distantes.

“O propósito do projeto Fábricas de Cultura é justamente estimular as atividades de artistas locais, oferecendo a eles um espaço adequado para suas apresentações com vistas ao crescimento profissional desses grupos e a oferta de experiências de palco”, afirma a nota.

A pasta cita ainda que o plano de trabalho possui uma ação denominada “Fábrica Aberta” que visa fortalecer a produção cultural e artística local por meio de ações de difusão, formação e intercâmbio, com incentivo à cessão de uso de espaço, seja para apresentações ou ensaios.

Será feito um processo de convocação pública para que as Organizações Sociais de Cultura interessadas em gerenciar a Fábrica se manifestem.

SÃO BERNARDO

O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB),  conseguiu um aval para a modificação do projeto inacabado do Museu do Trabalho e do Trabalhador para instalação de uma Fábrica de Cultura, programa idealizado pelo Governo do Estado. A oficialização ocorreu em encontro no gabinete do ministro de Cultura, Sérgio Sá Leitão, em Brasília. Na avaliação do titular da pasta, o pleito do prefeito de São Bernardo é o mais consistente e adequado para o espaço. Mas não tem data para começar a obra.

Katia Flora é correspondente de São Bernardo do Campo
katiaflora.mural@gmail.com