Professor cria Quebrada Maps para ensinar geografia na zona leste

Agência Mural

Para ensinar geografia com um olhar local, uma escola pública da zona leste de São Paulo adotou uma nova estratégia: a construção coletiva de mapas.

Desenvolvido na escola municipal Padre Chico Falconi, no Jardim Nazaré, o projeto “Quebrada Maps” une histórias de pessoas que moram no bairro com a tecnologia para trabalhar os conteúdos fora da sala de aula.

Esse novo jeito de ensinar foi implantado pelo professor Wellington Fernandes com o objetivo de  conectar as aulas com a realidade dos estudantes da região que fica entre os distritos de Guaianases e Itaim Paulista. “A ideia é criar a nossa cartografia, representar nossas identidades e falar sobre o território”, conta.

O educador começou o projeto em parceria com Jéssica Cerqueira, em uma escola do Rio Pequeno, na zona oeste. Depois de receber o prêmio do programa Vai Tec (Valorização de Iniciativas Tecnológicas), em 2017, a experiência foi para a zona leste, onde ele atua ao lado da colega Camila Ribeiro.

Professor Wellington Fernandes finaliza os trabalhos com mostra cultural na escola (Sheyla Melo/Agência Mural/Folhapress)

Durante o projeto, os alunos produzem vídeos, criam mapas e divulgam os dados coletados.

Com uma imagem de satélite do bairro, a estudante Gabrielle Santana, 13, mostra os lugares onde todos da sala moram. “São as quebradas da gente, onde vivemos. Pontos interessantes para visitar e os [espaços] mais importantes para nós”, conta apontando para o Parque Chácara das Flores. “É um local especial para mim”.

“Nós mapeamos os lugares onde poderíamos ter aulas. Conheci lugares que nunca tinha ido. Se vierem para a zona leste pela primeira vez, conheçam a Casa de Cultura do Itaim Paulista”, recomenda Jennifer Paiva, 13.

MORADORES

Outro foco do projeto é a coleta de depoimentos, momento em que surgem mapas colaborativos que abordam preconceitos.

Evelyn Miranda, 14, entrevistou as pessoas do bairro para saber o que eles pensam sobre a África. Do tema surgiu uma nuvem de palavras. “Tivemos a ideia de criar um mural com as palavras que mais apareceram. Depois fomos estudar e ver filmes sobre a África. Foi bem interessante”, diz a estudante.

Gabrielle Santana, Jennifer Paiva e Rayssa Santos apresentam no mapa as quebradas do bairro (Sheyla Melo/Agência Mural/Folhapress)

“São as imagens que os entrevistados têm sobre a Africa, muitas delas revelam os estereótipos, depois construímos um contraponto a partir de imagens reais no Google Street View”, comenta o professor.

Já a aluna Thauany Silva, 14, diz que gosta dos dois jeitos de estudar: nas aulas de campo e na sala de aula. Ela analisou as origens das pessoas do seu bairro e concluiu que muitas vem de outro estado para São Paulo, em busca de trabalho.

“Aqui tem muitos moradores que vieram de Pernambuco, Bahia e Minas. Meu pai mesmo é de Alagoas”, conta a adolescente, que já sabe que no futuro será jornalista.

Para o professor essa é uma maneira da turma se conhecer e se apropriar do espaço. “Não apareceu nenhum aluno querendo ser cartógrafo ainda”, afirma. “Mas uma noção sobre o bairro que vivem eles já têm”.

Thauny mostra mapa com regiões em que moradores nasceram (Sheyla Melo/Agência Mural/Folhapress)

Sheyla Melo é correspondente de Guaianases
sheylamelo.mural@gmail.com