Mãe mantém na própria casa associação para 40 autistas em Itaquaquecetuba
Quando tinha quatro anos, José Victor, 9, não falava e ainda usava fraldas. Depois de muito procurar ajuda médica, foi diagnosticado com autismo. O mesmo ocorreu com Maria Júlia, 6, que só começou a andar e falar há poucos meses.
Moradores de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, os dois são filhos da tradutora Edni Moreira, 46, que criou em 2014 a Amai (Associação Amigos dos Autistas Incondicionalmente) Azul. O projeto funciona dentro de sua própria casa, no bairro Estação, após a prefeitura pedir de volta o imóvel onde os trabalhos começaram.
A ideia surgiu pela falta de atendimento psiquiátrico infantil na cidade, que despertou em Edni o interesse de ajudar não só os filhos, mas outras famílias. “Se você acende uma luz para iluminar o caminho de outras pessoas, ilumina o seu próprio caminho”, afirma.
O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é uma condição neurológica que não tem cura e compromete a comunicação, a interação e o comportamento social. “A gente dá preferência para quem tem laudo, reside em Itaquá e não tenha convênio médico. A avaliação demora de dois a três meses e pode ser feita com nosso psiquiatra voluntário que atende em Mogi das Cruzes”, comenta.
Mesmo com CNPJ e título de utilidade pública, a tradutora sempre arcou com as despesas da entidade. Contas de água e luz e salários das funcionárias demandam cerca de R$ 4.000 mensais, vindos do dinheiro de Edni, de doações, bingos e rifas que promove.
IMPASSE
Durante o primeiro ano da entidade, cerca de 70 autistas recebiam atendimento pedagógico, psicossocial e psicológico na Amai em um prédio cedido pela prefeitura.
Após um ano e meio do projeto, a gestão de Mamoru Nakashima (PSDB), pediu para a entidade desocupar o imóvel e ofereceu um espaço na escola municipal Professor Paulo Nunes, no bairro Morro Branco, para continuarem o trabalho.
“Por conta de problemas com usuários de drogas e enchentes, cinco meses depois decidi sair da escola para garantir a segurança dos autistas”, explica Edni.
Sem alternativa, ela abriu mão da sala e de dois quartos de sua casa para que a associação continuasse funcionando, mas precisou diminuir para 40 o número de atendidos. Hoje, ela luta para que o poder público ceda um imóvel adequado.