Inaugurado em 2016, hospital de R$ 8 milhões continua fechado em Mairiporã

Por Humberto Müller

A imponente estrutura do Hospital Anjo Gabriel, em Mairiporã, região norte da Grande São Paulo, com previsão de contar com leitos de UTI, internação e emergência, em nada lembra o antigo hospital da cidade. Construído na década de 40, o hospital e maternidade Nossa Senhora do Desterro, administrado por uma associação beneficente com repasses da prefeitura, é hoje insuficiente para a cidade que de acordo com o Censo de 2010 teve 18% de aumento populacional, um dos maiores do estado de São Paulo.

Para a artista plástica Cristina Carnelos, 53, o antigo hospital é: “pequeno e insuficiente para o mínimo atendimento da população”. Ela conta que já foi atendida muitas vezes no local e que o tempo de demora e o desconforto nas instalações atrapalham, mas a qualidade do atendimento também deixa a desejar.

“Faltam médicos e os que têm muitas vezes erram o diagnóstico. Assim buscamos atendimento em outros municípios.” completa.

Com a promessa de acompanhar o crescimento do município, e ao custo de R$ 8.495.437, valor dividido entre recursos estaduais (obras), federais (equipamento) e municipais (terreno), o Hospital Anjo Gabriel foi construído e inaugurado com festa em 19 dezembro de 2016 pela então gestão do ex-prefeito Márcio Pampuri (PV), com a presença do Secretário Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, representando governador Geraldo Alckmin (PSDB). No entanto, o local até hoje permanece sem uso pela população.

Vista do prédio do Hospital Anjo Gabriel em Mairiporã, inaugurado em 2016, mas que ainda tem destino incerto (Humberto Müller/Agência Mural/FolhaPress)

Febre Amarela

Desde o final de 2017 o município de Mairiporã foi diretamente afetado por um surto de febre amarela que já confirmou até o momento 159 casos e 42 mortes, os maiores números do estado. Devido a estrutura insuficiente, todos os casos mais graves da doença foram encaminhados para outros municípios, a maioria seguiu para a capital.

Parte do problema, que afeta diretamente os 95 mil habitantes da cidade e os números crescentes de turistas aos finais de semana (O turismo de eventos foi o setor mais afetado pela doença), é a falta de solução para o Hospital Anjo Gabriel, que tinha entre suas promessas, leitos de UTI, de emergência e de internação, e o acesso a consultas especializadas, através de novos equipamentos de Raio-X e Ultrassom.

Na época de sua construção havia a previsão de uma emenda parlamentar, do Deputado Federal Sérgio Reis (PRB) no valor de R$ 1.260.000 para equipar o hospital. Um ano e cinco meses depois o local permanece vazio e fechado.

Abaixo assinado

Com o registro de mortes por febre amarela e a falta de soluções concretas para o hospital um abaixo assinado começou a circular na cidade, desde março uma tenda tem sido montada para colher assinaturas dos moradores em pontos de maior movimento.

Um dos responsáveis, o administrador de empresas Sandro Ovídio Martinez, 39, diz que foi decidido começar o abaixo assinado após ter questionado vereadores e prefeitura sobre o hospital.

“A resposta (dos políticos) é a de que a prefeitura não tem recursos, mas tanto vereadores quanto prefeito tinham a abertura do hospital em suas promessas de campanha, acredito que seja falta de comprometimento com a população”.

Tenda montada no distrito de Terra Preta, abaixo assinado já conta com mais de 3 mil assinaturas (Divulgação)

A meta é atingir 10.000 assinaturas, cerca de 9.5% da população do município. A expectativa após a campanha é levar o abaixo assinado até as autoridades e pressionar para que a prefeitura terceirize o local por meio de uma OSS (Organização Social de Saúde), como já acontece em muitas cidades da região, ou venha a fazer parcerias com universidades e laboratórios para abrir o espaço.

Até o momento, a versão online conta com pouco mais de 240 assinaturas e a física com cerca de 3 mil.

“Estamos tendo 100% de apoio e empenho da população, comércio, empresários e até de alguns políticos! Essa grande repercussão apenas reforça o que o povo quer: o hospital Anjo Gabriel, em pleno funcionamento”, pontua Martinez.

Questionada sobre a estrutura do antigo hospital e sobre a possibilidade de abertura do hospital Anjo Gabriel, a prefeitura de Mairiporã não respondeu até o momento da publicação desta reportagem. Porém, no dia 17 de abril a secretária de saúde Grazielle Bertolini, falou sobre a situação do hospital em um vídeo publicado na página oficial da prefeitura no Facebook, confira aqui.

Humberto Müller é correspondente de Mairiporã
lagomuller.mural@gmail.com