Grande SP e capital têm buzinaços de motoristas de Uber e redução de ônibus

No quinto dia de paralisações dos caminhoneiros pelo Brasil, os bairros das periferias de São Paulo e as cidades da região metropolitana viveram uma maior escasses com relação ao transporte, paralisação de outros setores em solidariedade à categoria e a alta nos preços.

Pelas ruas de Osasco e de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, houve buzinaços de grupos que apoiam os manifestantes. No caso osasquense, até motoristas de Uber estiveram nas vias da região central. Prefeituras tomaram medidas para manter o estoque de combustível.

Por outro lado, moradores sentiram a alta no preço dos alimentos em feiras livres no Capão Redondo, na zona sul. No Grajaú, a situação do transporte também foi afetada nas primeiras horas do dia e ainda deve complicar a volta para casa. Com a falta de combustível, algumas vias ficaram vazias com jeito de feriado. Na quinta-feira, a situação já havia começado a se agravar nos bairros. 

Além disso, correntes no WhatsApp têm sido espalhadas com mensagens que pedem apoio aos bloqueios de rodovias, após o anúncio do presidente Michel Temer (MDB) de que o Exército será utilizado para desbloquear as vias.

Centro de Osasco teve protestos (Paulo Talarico/Agência Mural/Folhapress)

Buzinaços de Uber e vans marcam sexta-feira em Osasco

Dois protestos marcaram a sexta-feira (25) em Osasco. Vans escolares fizeram uma carreata por algumas vias da cidade, em apoio ao protesto dos caminhoneiros. Além disso dezenas de condutores com os vidros pintados “Uber Greve” passaram por ruas do centro da cidade.

“Assim como todos os brasileiros, a Uber acompanha com atenção as notícias sobre a crise de abastecimento no país”, afirmou a empresa em nota. “A empresa entende que, como autônomos, os motoristas parceiros têm o direito de se manifestar, dentro do que a lei permite. Neste momento, reforçamos nossos canais de atendimento para estar em contato permanente com os parceiros e usuários e prestar o suporte que for possível”, ressaltou.

Apesar das paralisações, a prefeitura de Osasco informou que ainda não foram afetados serviços municipais essenciais e não houve a necessidade de baixar decretos de emergência.

“Sobre o transporte público, as empresas que atuam na cidade adotaram um intervalo maior entre os ônibus, semelhante ao que realiza aos sábados. No domingo, a frota terá uma redução de 20%”, informou a gestão.

Cidades vizinhas como Barueri, Itapevi e Jandira anunciaram a redução no número de ônibus nas ruas. Neste sábado (26), a frota circulará com o horário de domingo, com menos veículos. Ainda em Itapevi, a prefeitura determinou que o diesel só poderá ser vendido para ambulâncias. [PAULO TALARICO]

No ABC, coleta foi suspensa e transporte de pacientes interrompido em São Caetano

Em São Caetano do Sul, no ABC paulista, foram suspensas neste fim de semana o transporte de moradores para serviços de saúde. Os demais serviços funcionam normalmente. Na vizinha São Bernardo do Campo, apenas a coleta de lixo foi interrompida. Moradores relataram falta de combustível e evitaram fazer o trajeto para São Paulo.

“Não há combustível num raio de 10km”, afirmou o estudante Wellington Alves da Silva, 37. Morador do jardim Irajá, ele comentou que a rodovia Anchieta estava com problemas para o acesso, por conta da manifestação de condutores de vans escolares.

No caso de Diadema, o número de ônibus foi reduzido e a prefeitura pediu para os moradores “utilizarem com consciência” o transporte coletivo. “As escolas, os equipamentos de saúde e demais serviços poderão ser afetados em virtude da dificuldade de deslocamento dos funcionários”.

Em Santo André, a relações públicas, Thais Brandão, 25, teve dificuldades ao tentar voltar para casa em São Mateus, zona leste da capital na quinta-feira (24). Depois de fazer vários pedidos de carro, via aplicativo, um motorista aceitou a viagem, com previsão de chegada em 7 minutos. Como o veículo não se movimentou, ela questionou a demora. “Estou na fila do posto abastecendo”.

Mesmo sendo afetada, com menos opções para sair de casa, Thais apoia o movimento dos caminhoneiros. “Não ganho diretamente com isso, mas a meu ver, a paralisação é importante  para que uma classe de trabalhadores, extremamente desvalorizados, possam conseguir mudar alguma coisa”, reforça. (KÁTIA FLORA, LUCAS VELOSO E PAULO TALARICO)

Mogi também reduz frota de ônibus

Em Mogi das Cruzes, na zona leste da Grande São Paulo, teve protestos na quinta-feira (24) de caminhoneiros e motoqueiros que fizeram um buzinaços pelas ruas do centro da cidade.

A prefeitura anunciou um plano emergencial com a redução de 37 ônibus em 28 linhas municipais, o que ampliou os intervalos. A decisão foi tomada em conjunto pela Prefeitura e concessionárias.

A empresa CS Brasil operará com 22 ônibus a menos, em 18 linhas. Já a Princesa reduzirá a frota em 15 veículos, em 10 linhas.

“A companhia abasteceu os veículos em postos e dispõe de combustível para que seus ônibus que operam na região do Alto Tietê sigam atendendo à população, sem qualquer prejuízo de qualidade ou de oferta, até este domingo (27)”, afirmou a empresa em nota. [JÉSSICA SILVA]

Zona leste: Estudante demora 50 minutos em estação em Guaianases

Nesta quinta-feira (24), o estudante Higor Antunes, 21, estava em São Miguel Paulista, zona leste, por volta das 16h. Quando estava voltando para casa, que fica em Guaianases, esperou por mais de 50 minutos um ônibus.

Além da demora, o coletivo estava cheio. “É um ônibus que não costuma lotar e nem demorar tanto para chegar onde eu queria”, afirmou. “Além disso, toda vez que passava por um posto de gasolina, era um tumulto, pois os carros estavam enfileirados atrapalhando o caminho”, relembrou.

Nesta sexta-feira (25), Higor resolveu sair mais cedo de casa para não sofrer com os atrasos. Por fim, demorou 1h50, de Guaianases até o bairro do Cambuci, caminho que geralmente ele faz em 1h, com um trem e dois ônibus. [LUCAS VELOSO]

Feira vazia na manhã desta sexta-feira, no Capão Redondo (Dalton Assis/Agência Mural/Folhapress)

Zona sul: No Capão, alface foi vendido 2 vezes mais caro

A feira livre do jardim Maracá, no Capão Redondo,  estava vazia por volta das 11h, horário de grande movimento no bairro da zona sul de São Paulo.

Havia poucas barracas de hortifruti. As que foram montadas cobravam até R$4.50 em um pé de alface crespa. Um dia antes, o mesmo foi vendido por R$ 1,50 no supermercado. A batata sumiu das bancas. Gritos e frases com rimas para atrair os clientes, hoje deram lugar a reclamação pelo baixo número de vendas.

Os sacolões do bairro também aumentaram os preços do seus produtos, o quilo do pimentão vermelho saiu por R$13,90 e a bandeja de ovos com 30 unidades é vendida por até R$14,50. “Cada mercado está praticando um preço diferente com essa greve, o jeito é você fazer as compras de forma picada, até encontrar um preço adequado”, diz a dona de casa Cristina Santos Reis, 57.

Nas redondezas do centro do Capão Redondo até a estação de metrô da linha 5-Lilás, poucos  carros nas ruas e o fluxo de ônibus diminuiu em comparação com ontem. Pelo bairro, também houve paralisação das vans escolares. Motoristas estacionaram na lanchonete da avenida Elias Maas.

Zona sul: Ônibus interrompe viagem sem combustível no Grajaú

Quando saiu de casa, a auxiliar de serviços gerais Adeilde Azevedo dos Santos, pegou o ônibus Grajaú-Pinheiros por volta das 5h da manhã. A ideia era fazer o percurso entre o bairro da zona sul e a região de Santo Amaro, mas a viagem foi interrompida na estação de trem do Grajaú.

O motorista disse que o combustível tinha acabado. Ela teve de mudar de ônibus e foi de Vila Mariana, para tentar chegar ao trabalho.

A cena foi uma das que os passageiros viveram na manhã desta sexta-feira (25). Boa parte dos ônibus que vinham do Cocaia, um dos bairros mais distantes do distrito, não estavam parando pela manhã, por conta da lotação.

Apesar de todo o caos, havia quem não sabia o que estava acontecendo. Uma passageira não tinha a mínima ideia e ao passar pela Ponte do Socorro, ainda na zona sul, ela estranhou ao ver caminhões parados.

“É a greve. Os caminhoneiros estão em greve, por isso tá essa confusão. É que vc não assiste televisão, né? Mas vc não viu o negócio do leite que te enviei [pelo whatsapp]?Tiveram que jogar fora”, disse uma amiga. [PRISCILA PACHECO]

Zona norte: Motorista de caminhão de lixo na Brasilândia apoia protesto

Motorista da coleta de lixo de São Paulo há sete anos, Gerson Peres, 40, mora da Brasilândia, zona norte da capital. Nesta quinta-feira (25), ele teve de ir a um bairro mais distante em busca de produtos e ouviu do vendedor que não havia mais gás.

No entanto, ele enfatizou ser a favor dos protestos. “Acho que todos que dependem de combustível se sente sendo sugado pelo sistema, pelo preço do combustível”, diz o motorista. “Se o caminhão que eu trabalho fosse meu, com certeza estaria junto com os companheiros na manifestação que eu considero justa”, completa Gerson.

O serviço de lixo na capital começou a ter interrupções e a prefeitura declarou emergência. “A partir do momento que nós [da coleta de lixo] não sairmos na rua, toda população será prejudicada, pelo acúmulo de resíduos”, comenta Gerson. (LETICIA MARQUES)