Em cima da hora, ruas das periferias ganham cores do Brasil para a Copa

Talvez um pouco mais tarde do que o normal, mas ruas de várias regiões das periferias da capital e da Grande São Paulo ganharam as cores do Brasil, perto da estreia na Copa do Mundo de 2018 na Rússia.

Nas últimas semanas, a impressão de que o sentimento pelo Mundial está mais chocho do que nas edições anteriores tem sido uma das discussões da cidade. Segundo o Datafolha, 53% dos brasileiros não têm interesse pelo torneio.

Alguns moradores, no entanto, apontam normalidade na festa que vai começar já aos 45 do segundo tempo.

“Sempre foi assim, mesmo antes da copa na África do Sul”, diz Ana Maria Alves, 68, moradora da rua Sirius, em São Mateus, na zona leste. “A Copa começa quinta. O jogo do Brasil é no domingo. Vamos ver se eles ganham e o pessoal se anima”.

A Rússia enfrenta a Arábia Saudita pela abertura às 12h nesta quinta-feira (14), enquanto os brasileiros enfrentam a Suiça no domingo (17), às 15h. Confira a tabela.

Rua no Capão Redondo, zona sul de SP (Dalton Assis/Agência Mural/Folhapress)

A mudança de antigos moradores é a explicação de  Lázara Suppa, 81, também moradora do Jardim Santa Bárbara, em São Mateus. “Nós sempre fomos de nos ajudar. Até cuidávamos da praça. Só que umas famílias foram embora”. Em 2014, moradores pintaram um brasão da CBF e o mascote Fuleco na sua rua.

“É preciso animar né ?”, diz o chaveiro Eduardo Alves, 35, ao pintar a calçada e as guias da rua onde possui um comércio no Jardim Gismar, no Capão Redondo, também na zona sul.

Segundo Alves, a animação dos moradores não é a mesma que existia nas Copas de 1998 e 2002 com ruas pintadas de ponta a ponta e cheias de bandeiras, mas ele aponta um outro fator: considera que o povo está com a grana curta e desmotivados pela situação do país.

“Mesmo assim, eu busco pintar pelo menos as guias para lembrar os vizinhos que estamos em época de Copa e quem sabe desta vez a seleção não traz o hexa para o Brasil”, diz.

Desenho em 3D na zona sul viralizou nas redes sociais (Divulgação)

Por outro lado, há quem leve ainda mais a sério a decoração. Na Vila Liviero, zona sul da cidade no limite com São Bernardo do Campo, o desenho que o artista Daniel Ribeiro, conhecido como Danyart, 41, fez na rua José das Neves Santos, alcançou milhares de compartilhamentos nas redes sociais.

A arte de Daniel chamou a atenção por ter três dimensões. “Sempre pintei ruas em outras Copas do Mundo. Em 2014, comecei fazendo 3D”, explica o artista. 

TORCIDA PELO JOGADOR

Nas ruas do Jardim Peri, na zona norte, o sentimento mais cauteloso sobre a seleção deu lugar a euforia por conta de Gabriel Jesus, que cresceu na região.

Em meio as bandeirinhas com as cores da seleção e guias pintadas de verde amarelo está o rosto do jogador do Manchester City estampado em vários muros.

Jardim Damasceno, na Brasilândia, ganhou cores em várias ruas nos últimos dias (Cleber Arruda/Agência Mural/Folhapress)

“Ele é uma referência pra molecada. Ele é daqui, então, nós temos orgulho dele. Vê que ele chegou longe é muito bom” diz o estudante Victor Hugo, 14, que não se importa do craque ter ganhado visibilidade pelo Palmeiras. “Sou corintiano, mas isso não interfere em admirar e torcer pelo atacante, ele joga muito e a gente aqui gosta dele”.

A avenida Peri Ronchetti e a Rua Taquaraçu de Minas tiveram os principais desenhos com a imagem do atleta. Elas são fechadas aos fins de semana por serem ruas de lazer. O bloqueio tem ajudado a receber moradores de outras regiões para visitar a via e fazer fotos. 

ABC

Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, uma padaria na vila Jordanópolis é o principal indicador de que o Mundial vai começar.

“Resolvemos enfeitar por aqui para levantar o astral, para se sentir um pouco mais brasileira. Mesmo se a nossa seleção não ganhar, espero que dessa vez não seja uma derrota por lavada”, diz a gerente da padaria, Maria da Guia, 58.

Com o estabelecimento decorado há quase um mês, o administrador da Nova Jordanópolis, Ivan Carlos Pinto da Silva, 58, informou que ainda pretende pendurar camisetas, bonés e cornetas para sorteá-las em rifa de R$ 1. Ele tem sentido o distanciamento das pessoas em relação a Copa.

“O clima está tão esquisito, quase ninguém combinando para assistir aos jogos juntos. Então resolvemos motivar a gente e os clientes também”, diz.

Dalton Assis, Diogo Marcondes, Letícia Marques, Matheus de Souza e Jariza Rugiano são correspondentes do Capão Redondo, de Cidade Ademar, da Brasilândia, de São Mateus e de São Bernardo do Campo