Em Parelheiros, estudante arrecada roupas para ajudar moradores de rua no inverno
Diogo Marcondes
O inverno começou oficialmente em 21 de junho, mas as baixas temperaturas na cidade de São Paulo apareceram um mês antes. Em meio a notícias sobre a frente fria antecipada, a que mais chamou a atenção da estudante de pedagogia Ingrid Simões, 23, foi a da morte de um morador de rua devido ao frio.
O homem de 34 anos, identificado como Marciano da Silva Correa, morreu na madrugada do dia 21 de maio, na avenida do Rio Pequeno, na zona oeste de São Paulo. Ingrid mora em Parelheiros, no extremo da zona sul, e decidiu fazer algo em seu bairro.
No dia seguinte à notícia, nas noites de 22 e 23 de maio ela faltou na faculdade e foi à Praça Júlio César de Campos, no centro de Parelheiros, acompanhada do irmão, com cartazes pedindo doações de roupas.
“Parei para pensar que meus dias estão corridos, mas que Deus me abençoa e eu não tiro um minuto para abençoar alguém”, diz Ingrid, que frequenta uma igreja evangélica e diz sempre ter aprendido sobre amar ao próximo.
“Desde pequena eu sinto compaixão por moradores de rua, os vejo como esquecidos. Se uma pessoa tivesse dado uma coberta àquele homem…”, reflete Ingrid, se referindo ao morador de rua que morreu na zona oeste.
No primeiro dia, ela conseguiu arrecadar roupas, cobertores e sapatos. “No mesmo dia, ajudamos um homem na praça de Parelheiros e o restante das coisas (doamos) nas proximidades”, explica a estudante, que contou com a colaboração de alguns amigos na arrecadação e na distribuição.
Ela também conseguiu arrecadar panos que usou para forrar e cobrir casinhas de papelão improvisadas que servem como lar para cães que vivem abandonados pelas ruas de Parelheiros.
Ingrid tinha a ideia de não divulgar a ação que estava fazendo porque não quer aparecer, mas foi orientada pelos amigos a pedir doações nas redes sociais. Ela assim o fez. Muita gente se manifestou em sua postagem, mas o segundo dia não foi como ela imaginava.
Os termômetros marcavam quase 15 graus em Parelheiros na noite de 23 de maio. Ingrid ficou na praça pedindo doações entre 20h e 22h30 e conseguiu arrecadar apenas uma blusa.
Ela afirma que não ficou triste, mas meio desanimada. A estudante recebeu uma mensagem de apoio do irmão, dizendo que projetos de ajuda ao próximo passam por dificuldades muitas vezes e o desânimo passou.
“A blusa que recebi na caixinha significou muito, pois foi de uma amiga da minha mãe. Além de levar a roupa, ela ficou conosco até tarde, levou café, bolacha, essas coisas simples contam muito”, afirmou.
A ideia de Ingrid é continuar com o projeto de arrecadação. “Não quero parar, comecei agora pelo frio, mas tenho desejo de fazer sempre. Queria arrecadar uma vez por mês. Tenho muitas ideias”, diz.
Ingrid enfrenta os obstáculos comuns a muitos moradores da periferia. “O que me impede hoje de ajudar mais é a minha questão financeira, que é bem limitada”, afirma aos risos.
“E os meus horários, pois saio para trabalhar às 7h e chego da faculdade 23h30, meia-noite e meia. Aos sábados eu também estudo e trabalho. Só me resta o domingo para fazer mil coisas”, finaliza Ingrid.
As ações feitas depois da arrecadação de roupas estão sendo divulgadas na página Amor nas Ruas, no Facebook.
Diogo Marcondes é correspondente de Cidade Ademar
diogomarcondes@agenciamural.org.br