Sem funcionário, biblioteca na Cachoeirinha tem livros ‘fantasmas’
Ronaldo Lages
Quem chega à biblioteca Jayme Cortez em busca de um livro específico tem boa chance de sair de lá sem ele. Instalada no CCJ (Centro Cultural da Juventude) Ruth Cardoso, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, o espaço está sem um bibliotecário há cinco anos. O resultado é a desordem.
Oficialmente, são mais de 17 mil exemplares que vão de revistas em quadrinhos a livros de arquitetura e de literatura brasileira. Porém, encontrá-los nas prateleiras não tem sido tarefa fácil.
Frequentador da biblioteca há seis anos, Rodrigo Alves, 32, diz que já buscou livros que anteriormente sabia existir no acervo, mas não encontrou por conta da desorganização.
“Já procurei títulos que não achei no arquivo. Às vezes você vê um livro numa prateleira, volta duas semanas depois e percebe que não está emprestado e muito menos no acervo. Das duas a uma: ou foi furtado ou perdido”, conta.
Para Alves, muitas obras hoje não passam de “fantasmas”, pois existem apenas no cadastro digital, mas não são encontrados nas estantes. “Quando chego à recepção e pergunto se tem tal obra de um autor, me dizem que sim, mas não encontro na localização”, diz.
Estudante de letras, Marina Monteiro, 23, recorda do tempo em que foi jovem monitora cultural do centro há dois anos. Segundo ela, o atendimento era aquém do esperado.
“Me lembro do sistema Alexandria [plataforma de controle de livros] ser um pouco falho. Sempre foi bagunçado e confuso”, relata Marina.
O problema também se estende à organização. “Internamente tínhamos conflitos em relação ao espaço da biblioteca ser barulhento. Além de não ter uma frequente catalogação e arrumação das prateleiras”, afirma o ex-gestor Ítalo Yuri, 27, que comandou por quatro anos o setor de audiovisual do CCJ.
Com eventos realizados anualmente, como a Feira do Livro, muitas doações feitas por editoras acabam encostadas em uma sala escondida.
“O cuidado com os livros são mínimos, eles ficam numa sala imunda cheia de mofo e sem chave. Não é seguro porque qualquer um pode furtar. Esses livros não eram postos em circulação porque não eram catalogados”, diz Yuri.
A promessa de um funcionário específico para cuidar da organização da Jayme Cortez é antiga. Segundo Yuri, a secretaria municipal de Cultura dizia ter contratado o profissional, porém ele nunca chegou. Além de centros culturais, os CEUs (Centros Educacionais Unificados) estão igualmente sem servidores para executar a função.
SECRETARIA
A secretaria municipal de Educação afirma que no caso dos CEUs, a situação foi resolvida, com falta de funcionários apenas nos fins de semana. “As bibliotecas dos CEUs estão todas abertas à população e com atendimento normal. O quadro de bibliotecários estava incompleto no início de 2017. E que, por isso, algumas bibliotecas não estavam abrindo nos finais de semana”.
A pasta diz também que providenciou duas chamadas dos candidatos aprovados em concurso. “Com isso, a situação será normalizada nos finais de semana a partir de agosto”.
Quanto ao CCJ Ruth Cardoso, a secretaria admitiu que já foram convocados 25 bibliotecários e um destes será encaminhado para a biblioteca Jayme Cortez.
Com relação à catalogação de livros, a SMC esclareceu que este trabalho é centralizado e realizado por uma equipe da Coordenadoria de Bibliotecas, responsável por analisar, processar e encaminhar as doações para todas as 54 unidades da rede municipal.
Ainda segundo a SMC, a organização e manutenção das estantes e acervo são feitas pela equipe de cada biblioteca sob orientação da coordenadoria.
Ronaldo Lages é correspondente da Brasilândia
ronaldolages@agenciamural.org.br