Guarulhos pode ampliar aterro sanitário em área próxima ao Cantareira
Jordan Mello
Com medo de danos ao meio-ambiente e problemas de infraestrutura, moradores do bairro Cabuçu, em Guarulhos, na Grande São Paulo, têm questionado o projeto de ampliação de um aterro sanitário na região. O local abriga área de proteção ambiental com o Parque Estadual da Cantareira nas proximidades.
Trata-se do CDR Pedreira, administrado pelo grupo Veolia Brasil. O aterro funciona na região desde 2001 com capacidade máxima próxima do esgotamento.
A discussão começou no final de junho, quando a empresa apresentou estudo para ampliação ao Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). O projeto terá de ser aprovado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Atualmente o aterro tem 187 mil metros quadrados e o projeto prevê ampliar em mais 128 mil metros quadrados (68%). O espaço recebe lixo de Guarulhos e cidades vizinhas como Arujá, Atibaia, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Nazaré Paulista, Piracaia, Poá, São Paulo e Suzano.
Se for aprovado, a capacidade será dobrada, passando a receber cerca de 12 mil toneladas de lixo por dia.
Entre os questionamentos está o fato de que o bairro já recebeu outras intervenções na área preservada, como o trecho Norte do Rodoanel.
“A região já foi muito impactada pelas obras do Rodoanel e futuramente do Ferroanel. Tem o incômodo da poluição sonora e visual e o fluxo gigantesco de caminhões que o local receberia”, afirma o bancário Jefferson Silva, 33, morador do bairro Torres Tibagy e integrante do Movimento Cabuçu, contrário à medida.
No dia 11 de junho, uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal terminou em confusão após fala de um dos representantes da empresa CDR Pedreira, que chegou a chamar os moradores de hipócritas.
Uma segunda audiência foi adiada, por falta de AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) no prédio do legislativo. Ainda não foi marcada uma nova data.
O Cabuçu é o oitavo bairro mais populoso de Guarulhos. No último Censo do IBGE, realizado em 2010, mais de 45 mil pessoas moravam na região.
Quem vive no Cabuçu também cita problemas pelo fluxo de veículos nas estradas do Sabão, David Corrêa, Recreio São Jorge e a avenida Palmira Rossi.
“Quando chove, as principais vias de acesso ao bairro ficam totalmente bloqueadas, inviabilizando a locomoção dos moradores, por causa do excesso de buracos causados por caminhões e a infraestrutura precária do bairro”, diz a microempresária Ana Paula Pereira da Silva, 33.
Os moradores também alegam que a ampliação não pode ser feita por estar em um ponto próximo a área de proteção ambiental. A região Cabuçu Tanque Grande foi constituída pela Lei Municipal 6.798/2010.
“Há outras formas de descarte do lixo, promover a coleta seletiva incrementando a reciclagem, usinas de compostagens, incineradores, essas formas são mais ecológicas, mas no Brasil são pouco praticadas, a conscientização da população para a redução do lixo é importante mas não há políticas públicas nesse sentido”, afirma o professor de Ciências e Biologia, Sérgio Bonazzi.
EMPRESA
Por meio de nota, a Veolia Brasil minimizou os possíveis impactos de ampliação. A empresa afirma que “desde o ano 2000 a área objeto de estudos é ou foi utilizada como aterro pela Prefeitura de Guarulhos, DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e DERSA (Desenvolvimetno Rodoviário S/A)”.
A empresa prometeu a recuperação da área com o plantio de 90 mil mudas de árvores nativas, o que garantiria, segundo a empresa, a preservação de mais de 700 mil metros quadrados. “A ampliação do CDR Pedreira respeitará a Lei de Zoneamento e da APA Cabuçu e que não realizará nenhuma desapropriação de imóvel”.
Questionada, a Prefeitura de Guarulhos não se posicionou.
Jordan Mello é correspondente de Guarulhos
jordanmello@agenciamural.org.br