De um jogo de casados e solteiros, time da Cidade Líder passa dos 30 anos
Raquel Porto
Nos bairros periféricos há botecos que servem não apenas como espaço para consumir bebidas alcoólicas, mas são uma mistura de mercearia e bomboniere. No Jardim Marília, no distrito Cidade Líder, zona leste de São Paulo, o bar do Fumaça é um exemplo desse tipo de estabelecimento.
O comércio é também o ponto de nascimento do Fumaça, Futebol e Farra, time de futebol de várzea que representa a região e tem 31 anos, com títulos como a Copa Negritude, o vice de outros torneios como a Copa São Mateus e participações na Copa Kaiser.
Tudo começou por meio de Sebastião Ferreira de Oliveira. Corintiano e com 68 anos, ele se mudou para o Jardim Marília em 1978. Em 1987, desistiu da profissão de auxiliar de enfermagem para inaugurar o próprio bar. O apelido de Fumaça foi dado por um concorrente e pegou.
O boteco e Sebastião são figuras conhecidas na rua Pão de Açúcar. Nestes 31 anos, o estabelecimento conquistou clientes e vive cheio, principalmente aos fins de semana.
A ideia de criar o time surgiu a partir de uma brincadeira entre amigos no mesmo ano da inauguração. “O pessoal queria fazer uma disputa entre solteiros e casados, só para brincar. A gente achava que não conseguiria nem fazer o primeiro jogo e no fim foi acima das expectativas”, diz Oliveira.
Após a estreia, os atletas foram convidados para jogar em um festival para substituir um time que havia faltado. Jogaram, ganharam e outros convites surgiram. Foram 13 vitórias consecutivas.
Em 1996, Oliveira também criou um time feminino para representar a região. No entanto, não conseguiu conciliar o cuidado da equipe com o trabalho.
Hoje, 48 jogadores vestem a camisa do Fumaça, Futebol e Farra. Eles são divididos em três categorias: a de base, com adolescentes de 13 a 19 anos, o Sport, com jovens de 20 a 26 anos, e os veteranos, com adultos de 27 a 50 anos. O comando do time segue com alguns ex-jogadores.
É o caso do pintor Marcelo José e Silva, 51, que começou jogando e hoje é técnico da equipe de veteranos; e o comerciante Renato Lopes, 44, que ingressou no futebol do bairro há mais de 20 anos, e hoje treina o juvenil.
“O time dá oportunidade para aqueles que querem jogar e essa iniciativa fortalece o time, pois tira os meninos da rua, que passam a focar no esporte. E esse processo ajuda a comunidade como um todo”, diz Lopes.
Atualmente, jogadores que levavam os filhos acompanham os netos nos jogos. Sem competições no momento, as equipes participam de amistosos entre bairros. “Começamos sem muita ideia do que seria e de repente foi um bom trabalho social para a comunidade”, conclui Fumaça.
Raquel Porto é correspondente do Jardim Marília
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