Irmãos capoeiristas da Brasilândia mantêm legado do pai e são campeões
Cleber Arruda
No Dia dos Pais, comemorado no último domingo (12), fotos carinhosas e mensagens melosas pipocaram nas redes sociais; a saudade daqueles que não estão por perto ou mais presentes marejam os olhos com recordações.
Nesta ocasião, o contramestre de capoeira Sidney dos Santos Dias da Cruz, 29, prestou uma homenagem ao pai gingando e contrariando qualquer sentimento de ausência. Conhecido como Sidney Fiu, o capoeirista é filho do mestre Natal, falecido em 2002.
“Não dá para sentir saudade do meu pai, porque ele está presente em cada roda de capoeira, cada toque de berimbau. E comemorei este dia jogando capoeira com ele”, diz o capoeirista da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, após ter participado de uma roda na Praça da República, no centro da capital.
Mestre Natal, Natalino Dias da Cruz, fundou uma academia de capoeira na Brasilândia, na década de 1980. Segundo os filhos, todos capoeiristas e nascidos na região, a escola durou cerca de 25 anos e se tornou o grupo Fiu (Família Irmãos Unidos).
A academia fechou após a morte do mestre. Em meados de 2006, Sidney Fiu e os outros dois irmãos retomaram o projeto e deram continuidade ao trabalho da Fiu. Desde lá, venceram competições nacionais e mundiais do esporte.
“Nascemos na capoeira e fomos até hoje. Mesmo quando a academia fechou, continuamos a treinar em casa. Até conseguirmos um espaço para darmos aula”, conta Arthur Santos Dias Cruz, 26, o Arthur Fiu, caçula da turma.
Ele faz questão de lembrar um momento especial com o pai. “Fui o último a pegar a corda de professor com o mestre Natal, foi uma honra muito grande. Consegui me formar com ele, como professor mirim na época”.
Com luta e disciplina, o jogo virou. Em julho, Arthur Fiu foi vencedor do Campeonato Mundial da Federação de Capoeira em Baku, no Azerbaijão. Além de outros títulos, ele recebe o patrocínio de uma marca e é um dos nomes mais cotados em campeonatos nacionais e internacionais. No domingo, estava em um evento na Argentina.
A primogênita da turma é Natália dos Santos Dias da Cruz, 31, Natália Fiu. Contramestra em capoeira, ela também luta jiu-jitsu e está à frente do projeto Pisada do Tambor, que trabalha com samba de caboclo e também com workshops voltados para mulheres.
Um dos seus principais desafios é o combate ao preconceito com mulheres nas lutas. “Tive poucos momentos com meu pai, pois ele não exigia muito de mim, como dos meus irmãos. Até porque tem um certo machismo, de que não é coisa para mulher, mas eu treinava e era bem livre para fazer”.
Natália não abandonou a capoeira e faz uma avaliação do papel feminino no jogo. “Tenho crítica às mulheres, elas querem espaço, mas acho que é necessário que façam tão bem quantos os homens, que estudem e se dediquem, porque elas não são incentivadas como eles”.
O trio desenvolve atividades da Fiu para uma média de 300 alunos em cinco polos diferentes da cidade, entre eles, a Casa de Cultura da Brasilândia, onde os irmãos dão aulas gratuitas durante dois dias na semana. Além de espalharem alunos que integram o grupo Fiu em países como a França, Chile e Colômbia.
Títulos dos Fiu:
Natália Fiu – contramestra de 1º grau na capoeira
Tem trabalho de formação rítmica livre para novatos na capoeira e exerce trabalhos culturais de formação e apresentação com samba e capoeira
Campeã mundial em Londrina do Grupo Maculelê (2017)
Campeã internacional da Copa Herança (2017)
Campeã do Campeonato SP Open (2016)
Campeã brasileira NOGI (2016)
Sidney Fiu – contramestre de 2º grau
É o responsável pelos treinos técnicos do irmão Arthur Fiu para competições. Desenvolve trabalho social no CTN (Centro de Tradições Nordestinas) com oficinas de capoeira e fabricação de instrumentos
Campeão da Copa Herança (2017).
Arthur Fiu – contramestre de 1º grau
É patrocinado por uma marca e desenvolve trabalho social na Casa de Cultura da Brasilândia, com aulas de capoeira e culturas populares
Campeão mundial da Federação de Capoeira (2018)
Campeã mundial em Londrina do Grupo Maculelê (2017)
Vice-campeão do campeonato RedBull Paranauê (2017)
Cleber Arruda é correspondente do Jardim Damasceno
cleberarruda@agenciamural.org.br