Treinadora e jogador, irmãos de Pirituba estimulam basquete no bairro

Lara Deus

Era início dos anos 2000 quando Arthur Pecos, 23, começava a trajetória no basquete. Quando tinha seis anos, teve as primeiras aulas com tio Carlão, que ensinava o armador nas quadras do Piritubão, clube da Vila Pereira Barreto, na zona norte de São Paulo.

Hoje o armador está no NBB (Novo Basquete Brasil), principal liga nacional, e está mais perto de casa. O jogador estreou no Mogi das Cruzes, clube da Grande São Paulo, após passagem pelo Flamengo. 

“Tenho essa ligação forte com o pessoal daqui, por mais que tenha saído. O que mais pesa é essa questão da raíz e das amizades que tenho aqui”, conta Arthur, em entrevista no Parque Jardim Felicidade, onde jogou na adolescência.

No bairro onde cresceu, o basquete segue em evidência também pela atuação da irmã de Arthur, Sarith Anischa, 32, ex-jogadora e treinadora do Pirituba Basketball. 

Sarith Anischa após dar uma aula no Piritubão, clube localizado na Vila Pereira Barreto (Lara Deus/ Agência Mural/Folhapress)

Jogadora amadora até os 18 anos, Sarith se reaproximou da modalidade aos 23, quando começou a treinar um time de basquete adulto. No entanto, uma briga em quadra entre os times a traumatizou, e ela não queria mais estar no meio do esporte.

“Há dois anos, o Cristhyã [irmão mais novo] passou aqui, viu que a quadra estava vazia e falou ‘ah, você está em casa, a quadra está vazia, por que não utiliza isso?’. Aí comecei. Eu, um aluno e uma bola”, relata.

No dia 2 de setembro de 2016, Sarith abriu a escola, que hoje tem 65 alunos entre 7 e 17 anos distribuídos em três dias de aulas. Ela dá aulas junto com o educador físico Phelipe Bondan.

Apesar de cobrar mensalidades, entre R$ 60 e R$ 100, elas cobrem apenas os materiais usados em quadra. “Quando vamos para jogos, precisamos pagar a arbitragem. Faço várias ações para tentar um pouco de grana para isso. A gente arrecada latinha e vende, se meu irmão consegue uma camiseta, a gente rifa”, conta a treinadora.

O foco da escola não são os campeonatos, mas Sarith se esforça para que, quem tenha vontade, participe. “A gente não tem transporte, incentivo, então quando a gente vai jogar são os pais que vão ter que levar. Mas onde eu posso levá-los, levo”, conta.

Alunos do Pirituba Basketball se reúnem no centro da quadra após a aula para ouvir os recados finais dos professores (Lara Deus/Agência Mural/Folhapress)

PAIXÃO DE FAMÍLIA

A paixão pelo basquete na família não é exclusiva de Arthur e Sarith. Além deles, a irmã Luana Ariescha, 20, joga  basquete 3×3 pelo Corinthians e o mais novo Cristhyã Silva, 17, no Pinheiros.

Os filhos são frutos da união de Paulo Tadeu e Maria Inês, que também jogaram basquete durante a juventude. Nesta época, junto com Carlão e outros irmãos, Paulo tinha um time de basquete em Pirituba.

“Devemos muito a eles. Não só por ter colocado a gente no basquete, mas por nunca ter deixado de incentivar”, reflete Arthur.

“Treinava aqui no Piritubão quando essa quadra nem existia. A gente treinou seis meses sem tabela, jogando naquela pilastra”, revela Sarith. O Piritubão é a sede do Pirituba Futebol Clube, fundado em 1920, que desde então recebe eventos como bailes nos anos 1980 e treinos de outras modalidades.

Arthur começou lá, mas aos fins de semana frequentava as quadras dos parques Jardim Felicidade e Rodrigo De Gásperi para jogar o esporte. Segundo o jogador, as escolas deveriam dar mais incentivo para o basquete. Cita, por exemplo, a importância da NBB, que começou a ser transmitida na TV aberta desde 2015.

“Uma criança que não tem contato com o esporte, vê na TV e começa a gostar. Faz uma diferença absurda. É importante demais para o basquete”, comemora Arthur.

Lara Deus é correspondente de Pirituba
laradeus@agenciamural.org.br