Sem ciclovias, Suzano teve 13 mortes de ciclistas em dois anos
Conta-se que no idos de 1950 furtaram a bicicleta de Alberto Nunes Martins, o então prefeito da recém emancipada Suzano, município da Grande São Paulo. O mandatário usava a magrela para ir à prefeitura, segundo o livro “Memórias de Suzano: histórias e fotos de todos os tempos, do vilarejo à cidade grande (2009)”.
“Naquele tempo era que nem carro. Na cidade, tinha a bicicletaria da família Papaiz, que alugava bicicletas. Você aprendia a andar e alugava por hora. Era difícil alugar uma, porque havia muito moleque na cidade que queria andar de bicicleta. Era difícil comprar. Hoje é fácil”, declarou Rubens Ferreira Martins, filho de Alberto Nunes.
Desde então, muita coisa mudou em Suzano. Os 11 mil habitantes, à época, saltaram para uma população de 290 mil. No lugar das bicicletas, o município conta com uma frota de 135 mil veículos entre carros, motos, caminhões e ônibus, segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Em meio à alta de veículos, Suzano tem pouco espaço para as bicicletas, assim como boa parte da Grande São Paulo. Segundo o IBGE, na Grande São Paulo, mais da metade dos municípios não contam com uma via exclusiva para quem pedala.
Apesar disso, há quem ainda decida se deslocar por Suzano com suas magrelas.
Dados do levantamento do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, o Infosiga, apontou 13 mortes de ciclistas em Suzano, de 2015 a maio deste ano. A cidade fica atrás apenas de São Paulo, Mogi das Cruzes e Guarulhos, na Grande São Paulo.
INTEGRAÇÃO
De segunda a sexta-feira, o universitário Rafael Medeiros, 28, percorre 1,5 quilômetro até a Estação Suzano (CPTM), um percurso de cinco a dez minutos, em média. “Costumo percorrer ruas com menos movimento para evitar o tráfego de carros”.
Ele relata que a avenida Armando Salles de Oliveira e as ruas Benjamin Constant e General Francisco Glicério, nos horários de pico, são as mais perigosas.
Rafael utiliza o bicicletário da Estação Suzano, inaugurado em maio do ano passado. “Comprei a bicicleta há pouco tempo. Por coincidência, foi na mesma época que o bicicletário foi inaugurado. É uma mão na roda (sem trocadilhos), sobretudo para os usuários dos trens, como eu.”
A CPTM afirma que, atualmente, há mais de 3,9 mil usuários cadastrados no sistema do município. O bicicletário, que possui 576 vagas, recebe cerca de 423 usuários diariamente, quase o dobro dos 232 no ano passado.
O aposentado Elias Batista, 64, se desloca todos os dias de casa, no Jardim Miriam, até o Parque Max Feffer, no Jardim Imperador. De bicicleta, o aposentado leva 15 minutos em um percurso de quatro quilômetros, em média, percorrendo a rua Prudente de Moraes e parte da avenida Brasil. Segundo afirma, se utilizasse os coletivos da cidade, “além de ter que pagar por duas conduções, levaria o dobro do tempo para chegar ao mesmo destino”.
As maiores queixas entre os entrevistados pela Mural são “finas” e “fechadas” que tomam dos veículos maiores. “Motoristas que não decidem para onde ir, portas que são abertas repentinamente. Nesses momentos, tento me manter afastado o máximo que posso dos carros”, conta Rafael.
O Plano Diretor de Suzano, aprovado em dezembro passado, faz apenas duas menções às vias exclusivas para bicicletas. Contudo, nada concreto sobre a possibilidade de construção das mesmas a médio e longo prazo.
De acordo com o documento, são previstas no Programa de Estruturação Viária, a implantação de “ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, em acordo com o estabelecido no Plano de Mobilidade a ser elaborado“. E que são objetivos prioritários do município “hierarquizar o sistema viário existente prevendo, sempre que possível tecnicamente, a reserva de faixa para ciclovia e ciclofaixa”.
A Agência Mural questionou a Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana de Suzano acerca da falta de ciclovias no município. Até o fechamento desta matéria, não obtivemos nenhuma resposta da pasta.
Enquanto as vias exclusivas para ciclistas permanecem uma incógnita em Suzano, Elias sugere um chavão que repete a todo motorista imprudente. “Ô, amigo, buzina não muda a lei de trânsito.”
Rômulo Cabrera é corresponde de Suzano
romulocabrera@agenciamural.org.br
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