Obra de UBS na Brasilândia tem impasse e moradores temem perder unidade
Ronaldo Lages
Há 38 anos à espera de uma UBS (Unidade Básica de Saúde), a comunidade do Jardim Damasceno, na zona norte de São Paulo, teme perder o projeto.
Após reivindicação, um terreno foi escolhido há seis anos pela prefeitura para que fosse implantada na rua Cristiano Malabia. No entanto, neste ano, a secretaria municipal de saúde informou que o local é impróprio.
A pasta afirma haver falhas na estrutura e que o local é acidentado. A obra não foi iniciada. Agora, a gestão diz que irá procurar outra localização para que seja construída a UBS.
“Estamos aguardando a resposta dos técnicos da prefeitura, chegaram a cogitar um local fora do Jardim Damasceno, mas estamos esperando uma unidade aqui. Nos disseram que o terreno que temos vai gerar muitos custos de verba e que não será possível finalizar a obra”, conta o líder do Movimento Ousadia Popular, Quintino Viana, 73.
O Damasceno abriga mais de 20 mil moradores e faz parte do distrito da Brasilândia. Outro local foi especulado para a obra, mas, embora esteja em melhores condições, faz parte de uma área privada com 242 mil m².
Ainda segundo o líder comunitário, existem opções de terrenos vagos no bairro. “Nós queremos ao menos que eles comecem a obra, pois quem esperou 38 anos, pode esperar mais dois. Já saíram verbas e mais verbas e a desculpa é sempre a mesma: que não há terreno. O que mais existe aqui são áreas livres”, relata Viana.
A UBS mais próxima é a Silmarya Rejane Marcolino de Souza, a 3 km, no Jardim Carombé. No entanto, a dona de casa Estrela Aristides de Almeida, 28, reclama do atendimento e das dificuldades para chegar ao local.
“Às vezes, vou a pé porque as lotações demoram demais. O atendimento é ruim porque são poucos médicos para muita gente e marcam consultas a cada dois ou três meses”, diz a moradora.
Um vídeo tem sido compartilhado por moradores denunciando a imensa fila para atendimento na Silmarya. Ela chega a dar volta do lado de fora da UBS.
A dependência do serviço público tem aumentado na região. De acordo com pesquisa da Rede Nossa São Paulo/Ibope, na zona norte 84% utilizaram o serviço público, perdendo apenas para a zona leste com 87%.
Para o aposentado Joaquim Luís Peixoto, 80, a falta da unidade dificulta o acesso aos medicamentos ou atendimentos como inalações, injeções ou curativos.
“Uma UBS aqui ajudaria quem precisa pegar remédios. Mas é difícil um dia ter todos os medicamentos, sempre estão em falta. Chego a ter que ir até a Vila Nova Cachoeirinha para buscá-los”, desabafa.
TERRENO
Em nota, a Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Norte informou que integrantes de movimentos sociais da região indicaram duas opções de terreno para a construção da UBS Jd. Damasceno.
Após análise feita por um engenheiro, constatou-se que apenas um deles, de propriedade privada, oferecia as condições necessárias para a construção da UBS.
A CRS mencionou que entraria em contato com a liderança local, por meio da Supervisão Técnica de Saúde (STS) Freguesia do Ó/Brasilândia, com o objetivo de agendar uma reunião no mês passado, mas ainda não houve uma nova reunião para tratar do tema.
Ronaldo Lages é correspondente da Brasilândia
ronaldolages@agenciamural.org.br