Candidata à federal defende emprego para pessoas trans
Paloma Vasconcelos
Aos 63 anos, Ana Beatriz Ruppelt dos Santos decidiu entrar na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano.
A principal motivação, afirma, é a necessidade de visibilidade para pessoas trans e a ausência de políticas em três áreas que a consultora jurídica diz acreditar: as periferias, o meio ambiente e os direitos básicos, negados diariamente, das populações LGBTs.
Nestas eleições, o número de inscrições de pessoas trans bateu recorde com 52 candidatas, segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Moradora de Itapevi, na Grande São Paulo, Ana foi uma das duas candidatas a utilizar o nome social no estado de São Paulo, de acordo com a Justiça Eleitoral. Porém, ela aponta o gênero como fator principal de motivação para o número de postulações.
“Sabe o porquê de mais mulheres trans se apresentando nestas eleições? Porque, pela primeira vez, nós pudemos ser reconhecidas enquanto mulheres, mudando o nosso gênero no sistema eleitoral, não apenas o nosso nome social”, afirma à Agência Mural.
“O gênero nos aliou e nos empoderou, nos deixou com mais vontade de participar. Nós, candidatas trans, estamos cansadas de ver que ninguém dá atenção para nós. Nós queremos viver como todos vivem”, finaliza Ruppelt.
Ana conta que a decisão de entrar para política teve como impulsionador a sua militância enquanto mulher trans. “Como sou militante digital, cuido de vários grupos LGBTs e as pessoas me procuram para falar de política”, conta.
Ao participar de um evento do PDT, em um sábado de carnaval, foi convidada para disputar o pleito. “Na hora, perdi a respiração, achei que era muita areia para o meu caminhãozinho. Fiquei quatro dias pensando o que eu deveria fazer e se os meus projetos poderiam entrar em pauta. Então, decidi aceitar”, explica Ruppelt.
Formada em direito e pós-graduanda em políticas públicas, Ana faz parte do conselho de gestão do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, em São Paulo, e conhece de perto as dificuldades de pessoas trans em relação à saúde. Por isso, aponta este como seu foco principal, caso seja eleita.
“A população T, principalmente as mulheres trans e travestis, sofre muito com a problemática de saúde; venho acompanhando também o problema da falta de cirurgia, falta de vagas para acompanhamento de terapias hormonais”, comenta.
Apesar de saber a importância da saúde na vida de uma pessoa trans, Ana diz acreditar que o foco agora deve ser outro: a empregabilidade. De acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% das pessoas trans recorrem a trabalhos informais para sobreviver.
No caso das mulheres trans e travestis, a prostituição ainda é a única alternativa. “Se queremos acabar com a ideia de que uma pessoa trans só serve pra sexo, temos que pensar nisso”, defende.
“Temos que acabar com esse preconceito na contratação, fazendo iniciativas governamentais para que as empresas que queiram participar de licitações para trabalhar para o governo federal abram vagas para pessoas T, tanto homens trans quanto mulheres trans”, enfatiza Ruppelt.
PERIFERIA
Ana vive em Itapevi há 35 anos e afirma que não esquecerá das periferias, principalmente da sua região. “Eu moro na última estação da linha do trem, é uma hora de viagem da Barra Funda pra cá. Itapevi ainda é uma cidade-dormitório”, diz.
“O desgaste para o morador da periferia é muito grande, se as empresas estivessem mais próximas facilitaria. Com mais empresas nas regiões periféricas, a administração pública teria que colocar mais aparelhos nessas regiões, melhorando as vias e as instalações elétricas”, salienta.
Paloma Vasconcelos é correspondente da Vila Nova Cachoeirinha
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