‘Ativista é um cidadão que defende a democracia’, diz político da periferia
Gisele Alexandre
Ativista é um cidadão que está politicamente ativo e que defende a democracia. A opinião é de Fernando Ferrari, 41, morador do Capão Redondo. Ele faz parte da Bancada Ativista, grupo que conquistou quase 150 mil votos para deputado estadual nas eleições deste ano.
“Qualquer cidadão pagador de imposto deveria estar ativo e saber para onde está indo o seu dinheiro, será que isso é crime?”, questiona.
Nos últimos dias, o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) afirmou ser contra todo tipo de ativismo.
“Se o Bolsonaro tem poder de fala hoje é porque muitos ativistas lutaram para que a Constituição Federal fosse implantada. Ele não pode negar esse processo histórico”, finaliza.
Ferrari ao lado de outros oito integrantes compõe a Bancada Ativista, que terá uma cadeira na Assembleia Legislativa a partir de março.
Ele abraçou a ideia de montar uma candidatura coletiva. Entre os membros, cinco são integrantes das periferias de São Paulo.
O grupo será representado pela jornalista e ativista Mônica Seixas (PSOL), que teve a imagem nas urnas durante a eleição. Os demais trabalharão no gabinete, mas discutirão a posição do mandato em conjunto.
Cada participante foi denominado como um co-deputado e se uniram por pautas que passam pelo combate às desigualdades, segurança justa e humanizada, integração do social com o meio ambiente.
Morador da Vila Medeiros, na zona norte de São Paulo, Jesus dos Santos, 33, aponta preocupação da Bancada com o aumento no número de ameaças aos direitos humanos e ao ativismo. “Do ponto de vista político estou preocupado com as possíveis violências que cada um de nós poderá sofrer”, diz.
“Cada um de nós já vem fazendo algum tipo de enfrentamento ao sistema, e como essa estrutura aberta que a gente vai ter, teremos um nível de informação e de enfrentamento maior, mas ao mesmo tempo aumenta a nossa vulnerabilidade”, ressalta.
A campanha foi sustentada principalmente pelos R$ 67 mil arrecadados via financiamento coletivo [ao todo, foram R$ 87 mil recebidos para a campanha, somando os recursos do partido]. A divulgação foi focada na internet e nas redes sociais, o que tornou viável a exposição para todo o estado.
“Sinceramente, esperava me preparar para 2020, pois imaginava que conseguiríamos uns 60, 70 mil votos. Mas quando abri o celular e vi a votação no estado inteiro me surpreendi”, conta Fernando.
“Todos nós da Bancada Ativista somos trabalhadores, ninguém é milionário. Pelo contrário, passamos muitas dificuldades. Como cidadãos, ativistas e trabalhadores, a gente se coloca nesse espaço de mudança e intervenção da política”, completa Fernando.
Eles apontam que o trabalho de base dentro dos territórios, com panfletagem, o “corpo a corpo” e a articulação com lideranças comunitárias foi essencial. A ideia é manter essa proximidade ao assumirem o mandato.
“Realizaremos plenárias abertas de discussão e construção coletiva. De fato, temos como compromisso que este mandato não será fechado e de poucos. Ele será aberto e de construção coletiva”, diz Jesus.
Gisele Alexandre é correspondente do Capão Redondo
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