Carapicuíba não elege deputados pela primeira vez em 12 anos
Ana Beatriz Felicio
Com quase 400 mil habitantes, a cidade de Carapicuíba, na Grande São Paulo, não terá nenhum representante da cidade na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados em 2019.
É a primeira vez em 12 anos que o município da região oeste não elege nenhum deputado estadual ou federal.
O último parlamentar carapicuíbano foi Marcos Neves (PV), que deixou a Assembleia Legislativa em 2016 para assumir a prefeitura. O atual prefeito apoiou a vice-prefeita Gilmara Gonçalves (PSB), que concorreu a deputada estadual e teve 14.412 votos na cidade.
Outros nomes conhecidos também ficaram de fora. O ex-prefeito Sérgio Ribeiro (PT) recebeu 35 mil votos (17 mil de eleitores carapicuibanos), enquanto a ex-vereadora Professora Sônia (SD) contabilizou 33 mil votos no estado (25 mil na cidade).
Sônia afirma que a quantidade de candidatos da região contribuiu para a derrota. “Alguns sabiam que não seriam eleitos e não se preocuparam com a cidade. A ideia era mesmo só atrapalhar quem tinha reais chances”, afirma. Ela foi candidata à prefeita em 2016, quando perdeu para Neves.
No pleito, cinco vereadores da cidade disputaram a eleição. Dois deles tentaram vagas para estadual e três para federal. Nenhum obteve sucesso.
O cenário mostra uma mudança drástica no município. Há oito anos, a cidade elegeu dois deputados: Isac Reis (PT), apoiado na época pelo prefeito Sergio Ribeiro (PT), e Marcos Neves, que fazia oposição a gestão.
A última vez que Carapicuíba não elegeu um parlamentar foi em 2006, quando Ribeiro e Neves foram os mais votados do município, mas não conquistaram o número suficiente de votos.
PERDA DE RECURSOS
Para o cientista político Luís Antônio Vital Gabriel, uma cidade não possuir deputados eleitos pode trazer problemas, como a dificuldade para ter atendidas as demandas junto ao governo do estado e à presidência.
“[Sem deputados], as cidades tendem a serem esquecidas na discussão orçamentária. Se você pega Carapicuíba que não terá um representante na Alesp, sem dúvida nenhuma, as demandas e preocupações dos moradores não estarão na pauta”, afirma.
Ele ressalta que a falta de votos no município indica também um recado da população. “É uma mensagem muito clara. Mostra que os eleitores possuem uma desconfiança em relação aos seus quadros políticos”.
Ele também aponta a força da internet na disputa deste ano. “Muitas vezes, aquele candidato é escolhido pelo que aparenta na internet. Nunca chegará a visitar a periferia, mas pelo acesso digital, parece muito próximo aos moradores”.
DISTÂNCIA
Um dos pontos que mostra essa característica foi a votação de políticos que não fizeram campanha em Carapicuíba. Para deputado federal, o nome mais votado pelos carapicuibanos foi Eduardo Bolsonaro (PSL) que conseguiu 13.577 votos – ele foi o recordista em todo estado.
“Não votei em nenhum candidato de Carapicuíba, porque não conheço nenhum”, comenta a supervisora administrativa, Elaine Constantino, 44. “Nunca vejo os candidatos daqui fazendo nada pela cidade. Além disso, usamos muitos serviços da capital, por isso optei por candidatos da cidade de São Paulo”.
Mesmo tendo votado em candidatos da cidade, a funcionária pública Thaís Lima de Oliveira Torres, 32, salienta que se sente distante da vida política.
“Confesso que não estou acompanhando como anda a gestão de nossos representantes. Assim como eu, as pessoas com quem convivo não ligam muito. É uma sensação de ‘tanto faz’, de ‘não está bom, mas poderia ser pior’, o que é bem triste”.
“Não achei ninguém interessante de Carapicuíba que pudesse receber o meu voto, ninguém digno”, diz o motorista Claudinei Rodrigues, 46.
A atendente de telemarketing Yasmim Gomes dos Santos, 18, votou este ano pela primeira vez e se diz preocupada com o futuro da cidade. “Não ter ninguém de Carapicuíba nesses cargos pode fazer com que minha cidade regrida ainda mais ou não avance em melhorias”.
Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba
anabeatrizfelicio@agenciamural.org.br
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